Page 578 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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de beijar-lhe o focinho e oferecer-lhe um torrão de açúcar. Mas a dama, que
                  montava  de  lado  e  usava  um  comprido  e  esvoaçante  vestido  verde,  era
                  ainda mais bonita.

                         – Bom dia, estr-r-angeiros – murmurou a dama numa voz mais doce
                  que o canto dos pássaros, trilando os  “erres” gostosamente. – Alguns de
                  vocês são peregrinos nesta terra agreste?

                         – Pode ser, madame – respondeu Brejeiro, muito empertigado, em
                  posição defensiva.

                         –  Estamos  procurando  a  cidade  arruinada  dos  gigantes  –  declarou
                  Jill.
                         – A cidade ar-r-ruinada? – fez a dama. – Que idéia! Que pretende
                  fazer, se encontrá-la?

                         –  Precisamos  encontrá-la...  –  começou  Jill,  logo  interrompida  por
                  Brejeiro.

                         –  Com  o  seu  perdão,  madame.  Acontece,  porém,  que  não  a
                  conhecemos,  nem  a  senhora,  nem  o  seu  companheiro...  sujeito  calado,
                  hein... e a senhora também não nos conhece. Assim, melhor não confiar a
                  estranhos nossos negócios. Parece que vai chover, não é mesmo?

                         A  dama  riu  o  riso  mais  comunicativo,  mais  musical  que  se  pode
                  imaginar:

                         –  Muito  bem,  meus  filhos,  parabéns  pelo  guia  sábio  e  solene  que
                  possuem. Não lhes quero mal por fechar seu coração, mas eu abrirei o meu
                  para vocês. Já ouvi muitas vezes referências à gigantesca cidade arruinada,
                  mas jamais encontrei quem me ensinasse o caminho para lá. Esta estrada
                  conduz ao burgo do castelo de Harfang, onde vivem gigantes amáveis. São
                  tão bonzinhos, educados e sensatos como os de Ettin são bobos, perversos,
                  selvagens e dados a bestialidades. Em Harfang talvez vocês possam saber
                  qualquer coisa sobre a cidade arruinada, talvez não; de qualquer forma, lá
                  encontrarão  bons  alojamentos  e  anfitriões  amáveis.  Seria  mais  sensato
                  passar aí todo o inverno ou, pelo menos, permanecer alguns dias para que
                  descansem  e  se  recuperem.  Lá  encontrarão  banhos  de  vapor,  caminhas
                  macias, grandes lareiras;  e  o que  há  de bom,  assado  ou  cozido,  doce ou
                  salgado, estará na mesa quatro vezes por dia.
                         – Que beleza! – exclamou Eustáquio. – Só de pensar em dormir de
                  novo numa cama!

                         – Pois é... e banho quente?! – acrescentou Jill. – Será que eles nos
                  convidam? Nós nem os conhecemos...
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