Page 577 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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topo de dois penhascos. O ponto culminante do arco elevava-se acima dos
                  topos à mesma altura que está da rua a abóbada de uma catedral.

                         – Puxa! Só pode ser uma ponte de gigantes! – exclamou Jill.

                         – Ou de feiticeiras, é mais provável – replicou Brejeiro. – Precisamos
                  estar  atentos  aos  feitiços  num  lugar  como  este.  Parece  uma  armadilha.
                  Aquilo pode virar névoa e sumir quando estivermos no meio da travessia.

                         – Oh, francamente, deixe de bancar o pé-frio – falou Eustáquio. –
                  Por que diabo aquilo não pode ser uma ponte de verdade?
                         –  E  você  acha  que  algum  dos  gigantes  que  vimos  até  agora  teria
                  cabeça para construir uma ponte como aquela? – perguntou Brejeiro.

                         – E não poderia ter sido construída por outros gigantes? – perguntou
                  Jill. –  Quer dizer:  por  gigantes  que  existiram  há  séculos  e tinham  muito
                  mais cabeça que os modernos? Só podem ser os mesmos que construíram a
                  cidade gigantesca que andamos procurando. Se é assim, devemos estar no
                  caminho certo: a velha ponte leva à cidade velha!

                         – Grande idéia, Jill – disse Eustáquio. – Só pode ser isso. Vamos.

                         Quando chegaram em cima, verificaram que a ponte era sólida. As
                  pedras eram enormes e deviam ter sido talhadas por bons pedreiros, embora
                  o tempo as tivesse rachado e desconjuntado. A balaustrada já devia ter sido
                  coberta  de  entalhes,  dos  quais  restavam  alguns  traços:  gigantes,
                  minotauros, lulas, centopéias e divindades medonhas. Brejeiro, apesar de
                  continuar desconfiado, decidiu atravessá-la com as crianças.

                         A  subida  até  o  ponto  mais  alto  do  arco  era  longa  e  penosa.  Em
                  muitos  lugares  as  grandes  pedras  tinham  caído,  abrindo  buracos
                  apavorantes pelos quais se via, lá embaixo, o rio a espumejar. Uma águia
                  passou voando sob os pés deles. Quanto mais subiam, mais frio sentiam, e
                  o vento era tão forte que dificultava a caminhada. Parecia sacudir a ponte.
                         Do alto viram na encosta à frente os restos de uma estrada que se
                  dirigia  para  o  coração  das  montanhas.  Diversas  pedras  do  pavimento
                  tinham desaparecido; tufos de capim cresciam entre as que ficaram. E na
                  direção deles, a cavalo, vinham pela velha estrada duas figuras do tamanho
                  de um adulto humano.

                         – Continuemos – disse Brejeiro. – Num lugar como este todo mundo
                  deve ser inimigo, mas não devemos dar demonstração de medo.

                         Quando chegaram ao fim da ponte e pisaram na relva, as duas figuras
                  estranhas  estavam  bem  próximas.  Uma  era  um  cavaleiro  com  armadura
                  completa  e  a  viseira  abaixada.  A  armadura  e  o  cavalo  eram  negros;  não
                  havia emblema no escudo, nem flâmula na lança. A outra era uma dama
                  montada num cavalo branco, um cavalo tão bonito que dava logo vontade
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