Page 574 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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AS TERRAS AGRESTES DO NORTE
Na manhã seguinte, às nove horas, três figuras solitárias podiam ser
vistas procurando o caminho através do rio Ruidoso sobre pedras e baixios.
Era um riacho raso e barulhento; nem mesmo Jill chegou a molhar mais do
que o joelho quando atingiram a outra margem. Uns cinqüenta metros
além, começava uma elevação de terra pedregosa e penhascos.
– Acho que é este o nosso caminho – disse Eustáquio. E apontou
para a esquerda, para onde um regato descia por um desfiladeiro raso.
O paulama balançou a cabeça:
– É na encosta desse desfiladeiro que os gigantes costumam viver.
Para eles, o desfiladeiro é como uma rua. Melhor seguirmos em frente,
apesar de ser um pouco íngreme.
Acharam um lugar por onde podiam subir agarrando-se às pedras e,
em dez minutos, chegaram ofegantes lá em cima. Deitaram um olhar
saudoso para o vale de Nárnia e viraram-se para o Norte. A vasta e solitária
charneca estendia-se em todas as direções. À esquerda o terreno era mais
rochoso. Puseram-se a caminho.
Era uma terra boa para caminhar ao sol mortiço do inverno. A
medida que adentravam na charneca, a solidão crescia: ouviam-se pios de
pássaros e via-se um ou outro falcão. Na metade da manhã, pararam para
descansar perto de um riacho, e Jill começou a imaginar que, afinal de
contas, as aventuras podiam ser divertidas. E disse isso.
– Ainda não tivemos aventura alguma! – falou o paulama.
Caminhadas depois do primeiro descanso – assim como as manhãs
na escola depois do recreio ou as viagens de trem depois da baldeação –
nunca são como eram antes. Quando se puseram outra vez a caminho, Jill
observou que a borda rochosa do desfiladeiro estava mais próxima. E as
pedras eram menos achatadas, mais verticais, como se fossem pequenas
torres. E tinham formas muito engraçadas!
“Acho”, pensou ela, “que essa história sobre os gigantes começou
com essas rochas engraçadas. Se a gente chegasse aqui ao escurecer, seria
facílimo tomar aquelas pedras por gigantes. Olhem aquela ali! Não custa
imaginar que aquele bola de pedra em cima é uma cabeça. Uma cabeça
grande demais para o corpo, mas que não ficaria de todo mal num gigante