Page 80 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Leão respirou fundo, inclinou ainda mais a cabeça e deu-lhe um beijo de
                  Leão. O menino sentiu instantaneamente que havia conquistado uma nova
                  força e uma nova coragem.

                         – Meu filho, vou dizer-lhe o que deverá fazer. Olhe para o oeste e
                  diga-me o que vê.

                         – Vejo montanhas enormes, Aslam. Vejo este rio caindo através de
                  penhascos, numa grande cachoeira. E além há colinas verdes e florestas. E
                  ainda  mais  além  há  altíssimas  cordilheiras  que  parecem  negras.  E  mais
                  longe, muito mais longe, há colossais montanhas cobertas de neve. E além
                  delas não há mais nada, só o céu.

                         –  Enxerga  bem.  Escute:  a  terra  de  Nárnia  termina  onde  está  a
                  cachoeira; lá em cima, ia estará fora de Nárnia, em pleno Ermo ocidental.
                  Deverá atravessar aquelas montanhas até encontrar um vale verde com um
                  lago  azul,  cercado  de  montanhas  de  gelo.  No  fim  do  lago  há  um  monte
                  verde  e  escarpado.  No  cume  desse  monte  há  um  jardim.  No  centro  do
                  jardim há uma árvore. Apanhe uma maçã dessa árvore e traga a fruta para
                  mim.
                         – Sim, senhor. – Digory não tinha a menor idéia de como subir até a
                  cachoeira  e  achar  o  caminho  entre  aquelas  montanhas  todas;  mas,  se
                  revelasse  isso,  poderia  parecer  desculpa  para  não  ir.  Disse  apenas  o
                  seguinte:

                         –  Espero,  Aslam,  que  não  esteja  com  muita pressa.  Levarei  algum
                  tempo para ir e voltar.

                         – Filho de Adão, você terá ajuda. – Aslam voltou-se para o cavalo,
                  que  durante  esse  tempo  ouvira  a  conversa  com  um  ar  de  quem  não  está
                  entendendo muito.

                         – Meu amigo – disse Aslam ao cavalo –, gostaria de ser um cavalo
                  alado?

                         Você precisava ter visto o cavalo sacudindo a crina, com as ventas
                  infladas, dando uma boa pata da no chão. É claro que ele gostaria de ser um
                  cavalo alado! Mas disse apenas:
                         – Se quiser, Aslam... se quiser mesmo... mas não sei por que seria
                  eu... não sou um cavalo muito inteligente.

                         – Seja alado. Seja você o pai de todos os cavalos voadores – rugiu
                  Aslam, com uma voz que sacudiu a terra. – Seu nome é Pluma.

                         O cavalo passarinhou, como já devia ter passarinhado nos infelizes
                  tempos do cabriolé. Ergueu-se e esticou o pescoço para trás, como se um
                  inseto  picasse  seus  ombros.  Depois,  assim  como  os  bichos  brotaram  da
                  terra, dos ombros de Pluma brotaram asas, que se estenderam e cresceram,
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