Page 75 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Dez coisas diferentes passaram como um relâmpago pela cabeça de
                  Digory, que teve o juízo de contar estritamente a verdade.

                         – Fui eu que a trouxe, Aslam – respondeu, com a voz fraca.

                         – Com que objetivo?

                         – Queria que ela saísse do meu próprio mundo e fosse para o dela.
                  Pensei que estivesse no caminho certo.
                         – Mas como ela foi parar em seu mundo, Filho de Adão?

                         – Por magia.

                         O  Leão  nada  disse  e  Digory  sentiu  que  ainda  não  dera  todas  as
                  informações.

                         – Foi meu tio, Aslam: ele nos enviou para fora do nosso mundo por
                  meio  de  uns  anéis  mágicos;  eu  tinha  mesmo  de  ir,  porque  Polly  foi
                  mandada na frente; aí encontramos a feiticeira num lugar chamado Charn, e
                  ela agarrou-se em nós quando...
                         – Você encontrou-se com a feiticeira? – perguntou Aslam com uma
                  voz soturna, que encerrava a ameaça de um rosnado.

                         –  Ela despertou –  informou  Digory  com  o  coração  em  frangalhos.
                  Ficou branco, branco, e acrescentou: – Quer dizer, eu despertei ela. Queria
                  saber  o  que  aconteceria  se  eu  tocasse  o  sino.  Polly  não  queria.  Não  foi
                  culpa  dela.  Eu...  eu  briguei  com  ela.  Sei  que  errei.  Acho  que  fiquei  um
                  pouco enfeitiçado pelas palavras escritas debaixo do sino.

                         – Enfeitiçado? – perguntou o Leão, na mesma voz soturna.

                         – Não, agora eu sei que não estava enfeitiçado. Estava só fingindo.
                         Seguiu-se  uma  longa  pausa.  O  menino  pensava  o  tempo  todo:
                  “Estraguei tudo! Agora não arranjo mais nada para mamãe.”

                         O  Leão  voltou  a  falar,  mas  não  para  Digory.  –  Vejam  só,
                  companheiros: antes que o mundo limpo e novo que lhes dei tivesse sete
                  horas de vida, a força do Mal já o invadiu; despertada e trazida até aqui por
                  este Filho de Adão.

                         Os bichos, até mesmo Morango, olharam todos para Digory, e nesse
                  momento ele desejou que a terra se abrisse e o devorasse. Aslam continuou
                  a falar para os animais:

                         – Mas não se deixem abater. O mal virá desse mal, mas temos ainda
                  uma longa jornada, e cuidarei para que o pior caia em cima de mim. Por
                  enquanto, providenciemos para que, por muitas centenas de anos, seja esta
                  uma terra de júbilo em um mundo jubiloso. E, como a raça de Adão trouxe
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