Page 72 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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DIGORY E O TIO EM APUROS
Pode parecer que os animais eram muito burros, por não perceberem logo
que tio André era uma criatura da mesma espécie das crianças e do
cocheiro. Mas devemos lembrar que os animais nada sabiam a respeito de
roupas. Pensaram que a saia de Polly, o terninho de Digory e o chapéu-
coco do cocheiro fossem partes de cada um, como as peles e as penas dos
bichos. Nem poderiam saber que os três eram da mesma espécie, se não
tivessem falado com eles. Mas tio André era bem mais alto do que as
crianças e bem mais magro que o cocheiro. Vestia-se de preto de alto a
baixo, com exceção do colete branco (já não muito branco) e da juba de
seus cabelos (muito desgrenhada, agora); não se assemelhava a nada do que
haviam reparado nos outros humanos. É natural que estivessem
atrapalhados. Para agravar tudo, tio André parecia não ter o dom da fala.
É verdade que ele tentara dizer algo. Quando o buldogue falou com
ele (ou, como pensava, rosnou para ele), o velhote estendeu a mão e
arquejou:
– Totó...
Mas os bichos também não eram capazes de compreendê-lo. Não
ouviram palavras, mas um ruído sibilante. Talvez tenha sido até bom, pois
nenhum cão do meu conhecimento (muito menos um cão falante de Nárnia)
gosta de ser tratado de Totó.
Tio André teve um desmaio profundo.
– Está vendo – disse um javali –, não passa de uma árvore. Sempre
achei isso. (Lembremo-nos de que ainda não haviam visto uma queda ou
um desmaio.)
O buldogue, após farejar tio André por todos os lados, ergueu a
cabeça e concluiu:
– É um bicho, um bicho. Sem dúvida. E muito provavelmente do
mesmo tipo dos outros três.
– Não concordo – disse um dos ursos. – Um animal não rola desse
jeito. Somos animais e não rolamos desse jeito. Ficamos em pé. Assim. –
Ficou em pé nas pernas traseiras, deu um passo para trás, tropeçou num
galho traseiro e caiu de costas. – A terceira piada, a terceira piada! – gritou
a gralha, excitada.