Page 68 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Volte, Digory! Obedeça-me! Volte logo! Quando por fim os três
                  chegaram ao círculo dos bichos, estes calaram a boca e olharam para eles.
                  Falou o Sr. Castor, finalmente:

                         – Bem, em nome de Aslam, quem são vocês?

                         –  Por  favor...  –  mal  Digory  disse  isto,  sem  fôlego,  um  coelho
                  interrompeu:

                         – Só pode ser uma espécie de alface graúda.
                         – Não somos alface, sinceramente, não somos – protestou Polly com
                  toda a pressa necessária. – Não somos de ser comidos.

                         – Taí – falou a toupeira. – Eles falam. Quem já ouviu dizer de uma
                  alface que falasse?

                         – Quem sabe não são a segunda piada? – sugeriu a gralha.

                         Uma pantera que lavava a cara deteve-se para comentar:
                         – Se isso é uma piada, gostei mais da primeira.

                         Não acho graça nenhuma nessa aí – e, bocejando, voltou a lavar-se.
                  Digory continuou:

                         – Por favor, não tenho tempo a perder. Preciso falar com o Leão.

                         Enquanto  isso,  o  cocheiro  tentava  encontrar  Morango;  até  que  por
                  fim deu com ele:
                         – Morango, companheiro velho de guerra. Não se lembra de mim?
                  Ou vai dizer que não me conhece? – O que é esta Coisa conversando com
                  você, cavalo? – perguntaram.

                         – Bom – começou a responder Morango, com a maior lentidão –, não
                  sei  precisamente.  Acho  que  nenhum  de  nós  sabe  muito  a  respeito  de
                  qualquer coisa assim. Tenho uma vaga idéia de já ter visto antes uma coisa
                  assim. Tenho a impressão de já ter vivido em outro lugar – ou de ter sido
                  uma outra coisa – antes que Aslam nos despertasse há poucos minutos. Está
                  tudo  muito  confuso  na  minha  mente.  Parece  um  sonho.  Mas  no  sonho
                  aparecem coisas como estas três aqui.

                         – Hein? – exclamou o cocheiro. – Não me reconhece mais? Logo eu
                  que lhe dava, quando podia, uma comidinha especial? Eu, que esfregava
                  você! Eu, que cobria você com um cobertor velho no tempo do frio! Não
                  esperava isso de você, Morango, francamente!

                         – Estou começando a me lembrar – falou Morango, pensativamente.
                  – Ah, é. Deixe-me pensar um pouco mais. Isso mesmo: você costumava
                  amarrar  nas  minhas costas uma  coisa  escura, horrível...  Costumava  bater
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