Page 63 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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poucas pessoas têm de ser iniciadas no meu segredo. A primeira coisa a
                  fazer é liquidar aquela fera.

                         – O senhor é igual à feiticeira, sem tirar nem pôr – disse Polly. – Só
                  pensa em matar.

                         –  E,  quanto  a  mim  –  continuava  o  tio  num  sonho  feliz  –,  e
                  imprevisível por quanto tempo poderei viver enquanto estiver aqui. Isso é
                  uma coisa de capital importância quando já se chegou aos sessenta anos.
                  Não  ficaria  nada  espantado  se  eu  não  envelhecesse  nem  um  dia  a  mais
                  nesta terra! Fantástico! A terra da eterna juventude!

                         – Oh! – exclamou Digory. – A terra da eterna juventude! Acha que é
                  isso realmente? – Lembrou-se do que dissera tia Lera à senhora das uvas, e
                  doces  esperanças  o  animaram  outra  vez.  –  Tio  André,  acha  que  alguma
                  coisa por aqui poderia curar a mamãe?
                         – Que história é esta, menino? Isto não é farmácia. Mas eu estava
                  dizendo...

                         –  O  senhor  não  dá  a  mínima  importância  a  ela  –  proferiu  Digory,
                  irritado. – Pois acho que está errado; afinal, trata-se de sua irmã também.
                  Bem,  deixe  para  lá.  Vou  perguntar  diretamente  ao  Leão  se  ele  pode  me
                  ajudar.

                         Virou-se e saiu bruscamente. Polly esperou um instante e foi atrás.

                         – Epa! Espere! Volte aqui! Esse menino ficou doido...

                         Tio André seguiu as crianças, com a maior cautela: não queria nem
                  ficar longe demais dos anéis, nem perto demais do Leão.
                         Em  poucos  minutos  Digory  atingiu  a  orla  do  bosque.  O  Leão
                  continuava a cantar, mas a canção era de novo diferente, mais agreste do
                  que as outras. Fazia a gente querer correr, pular, subir nas árvores, gritar, ir
                  ao encontro dos outros para abraçá-los ou esmurrá-los.

                         Digory ficou com o rosto quente, vermelho. Nem tio André escapou
                  aos efeitos da música, pois Digory o ouviu dizer: “Moça valente! Que pena
                  o temperamento dela! Mas que mulher, que mulher danada!”

                         No  entanto,  o que  a  canção provocava nos seres humanos  não  era
                  nada, se comparado com o que estava acontecendo ao resto daquele mundo.

                         Você  é  capaz  de  imaginar  um  monte  de  terra  relvosa  a  borbulhar
                  como água na chaleira? Não pode haver melhor descrição do que estava
                  acontecendo.  Por  todos  os  lados  a  terra  se  inchava  em  corcovas.  Eram
                  montes de tamanhos diversos,

                         alguns  do  tamanho  de  um  formigueiro,  outros  do  tamanho  de  um
                  barril,  outros  do  tamanho  de  uma  cabana.  E  as  corcovas  mexiam-se  e
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