Page 61 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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fizesse  barulho  ao  andar,  dava  para  sentir  o  seu  peso,  enquanto  se
                  aproximava.

                         A feiticeira deu um berro e correu, desaparecendo entre as árvores.
                  Tio André quis fazer o mesmo, mas tropeçou numa raiz e caiu de cara num
                  riacho. As crianças não se moveram. Não podiam. Nem sabiam se queriam.
                  O  Leão  não  lhes  deu  atenção.  Sua  boca  imensa  estava  aberta,  mas  para
                  cantar, não para rosnar. Passou tão perto que poderiam ter tocado em sua
                  juba. Temiam que se voltasse para o lado e desse com eles; mas, apesar do
                  medo, desejavam  que  isso  acontecesse. Era,  no  entanto,  como se  fossem
                  invisíveis  e  inodoros.  Depois  de  dar  alguns  passos,  o  Leão  voltou-se,
                  passou  novamente  por  eles,  continuando  o  seu  caminho  na  direção  do
                  oriente.

                         Tio André, tossindo e respingando, saiu do riacho.

                         – Temos de ficar livres dessa mulher, Digory! A fera já se foi. Dê-me
                  a mão e pegue logo o anel.
                         – Longe daqui! – gritou Digory, afastando-se. – Cuidado com ele,
                  Polly; venha aqui ao meu lado. Vou lhe dizer uma coisa, tio André: nem
                  mais um passo, senão a gente some.

                         –  Faça  o  que  eu  lhe  falei,  rapaz  –  disse  o  tio.  –  Você  é  muito
                  desobediente, um jovenzinho muito malcomportado.

                         – Calma! – disse Digory. – Queremos ficar e ver o que vai acontecer.
                  Pensei que o senhor gostasse de conhecer outros mundos. Não gosta mais?

                         –  Gostar?!  –  pulou  tio  André.  –  Olhe  o  estado  em  que  estou!  A
                  minha melhor roupa!

                         Estava  mesmo  uma  coisa!  Quanto  mais  elegante  está  uma  pessoa,
                  pior fica depois de embolar-se num cabriolé em frangalhos e cair dentro de
                  um córrego:
                         – Não estou dizendo que o lugar não seja interessante – acrescentou
                  o tio. – Se eu fosse mais moço, talvez arranjasse um bom companheiro para
                  voltar  aqui.  Um  desses  caçadores  destemidos.  O  lugar  não  é  nada
                  desprezível.  O  clima,  por  exemplo,  é  uma  delícia.  Nunca  respirei  um  ar
                  assim. Acho que me teria feito bem à saúde, se as condições não fossem tão
                  desfavoráveis. Se tivéssemos ao menos uma espingarda!

                         – Que espingarda que nada! – falou o cocheiro. – É melhor eu ir ver
                  se consigo dar uma limpada no Morango. Olhe, esse cavalo tem mais juízo
                  que certa gente que eu conheço...

                         Andou até o animal e começou a fazer os barulhinhos que fazem os
                  tratadores de cavalos.
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