Page 62 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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–  O  senhor  acha  que  aquele  leão  pode  morrer  com  um  tiro?  –
                  perguntou Digory. – Ele nem ligou para a barra de ferro!

                         – Apesar de tudo, aquela moça é valente. Era preciso coragem para
                  fazer aquilo. – E o tio começou a esfregar as mãos e a estalar os dedos,
                  como se mais uma vez se esquecesse do medo que tinha da feiticeira.

                         – Foi uma covardia – interveio Polly. – Que mal ele fez a ela?

                         – Ei, o que é aquilo? – gritou Digory, ao avistar algo a uns metros de
                  distância. – Polly, venha correndo.
                         Tio André também foi, não porque estivesse curioso, mas por querer
                  ficar perto das crianças, à espera de uma oportunidade de apoderar-se dos
                  anéis. Ao ver do que se tratava, acabou interessado. Era um poste de luz,
                  dos  antigos,  perfeito,  com  uns  poucos  palmos  de  altura,  mas  que  foi
                  crescendo à medida que olhavam, como as árvores haviam crescido.

                         – Está vivo também... quer dizer, está aceso – exclamou Digory.

                         Era verdade. A claridade do sol, naturalmente, tornava difícil ver a
                  pequena  chama  dentro  do  lampião,  a  não  ser  quando  uma  sombra  se
                  projetava nele.

                         – Notável, notabilíssimo! – murmurou tio André. – Nem mesmo eu
                  poderia  imaginar  magia  como  esta.  Estamos  num  mundo  onde  as  coisas
                  todas, mesmo os postes, nascem e crescem. Não posso atinar com o tipo de
                  semente que dá poste de iluminação.

                         – Não está vendo? – perguntou Digory. – É o lugar onde caiu a barra
                  de ferro... a barra que ela arrancou do poste de Londres. Está virando um
                  postezinho.
                         Mas já não era tão pequeno assim, pois enquanto ele falava isso o
                  poste alcançava a sua altura.

                         – Fantástico, fantástico! – exclamava tio André, esfregando as mãos
                  com mais energia do que nunca. – Ah, ah! Eles se riam das minhas magias.
                  Aquela louca da minha irmã me considera um lunático. Quero ver o que
                  vão  dizer  agora!  Descobri  um  mundo  onde  tudo  explode  de  vitalidade e
                  cresce. Colombo, falam muito de Colombo. Que é a América, comparada a
                  isto? As possibilidades comerciais deste país são ilimitadas. É só trazer uns
                  pedacinhos  de  ferro  velho  para  cá,  enterrá-los,  e  eles  crescerão  como
                  locomotivas, como navios de guerra, o que se quiser. O preço de custo é
                  nada, e eu posso vendê-los aos preços do mercado inglês. Desta vez fico
                  milionário.  Sem  falar  no  clima!  Já  estou  me  sentindo  vinte  anos  mais
                  jovem. Posso fazer disto aqui um lugar de tratamento. Uma boa clínica aqui
                  não pode valer menos do que vinte milhões por ano. É claro que algumas
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