Page 66 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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A PRIMEIRA PIADA
Era decerto a voz do Leão. As crianças já haviam adivinhado que ele
falava. Mesmo assim, quando falou, foi um choque para elas, ao mesmo
tempo agradável e terrível.
Das árvores surgiram criaturas selvagens, deuses e deusas da
floresta; chegaram com eles os faunos, os sátiros e os anões. Das águas
saíram o deus do rio com suas filhas, as náiades. E todos eles e todos os
animais, com suas vozes diversas, graves ou estridentes, roucas ou claras,
replicaram:
– Salve, Aslam! Ouvimos e obedecemos. Estamos despertos.
Amamos. Pensamos. Falamos. Sabemos.
– Mas, com licença, ainda não sabemos muito – falou uma voz nasal
e bufante. As crianças levaram um susto, pois fora o próprio Morango que
falara.
– Formidável! O velho Morango! – exclamou Polly. – Estou feliz de
saber que ele também foi escolhido para ser um animal falante.
E o cocheiro, que estava então ao lado das crianças, disse:
– Macacos me mordam! Sempre falei que aquele cavalo tinha muita
inteligência, sempre.
A voz forte e feliz de Aslam ressoou:
– Criaturas, eu lhes dou a si mesmas. Dou-lhes para sempre esta terra
de Nárnia. Entrego-lhes as matas, os frutos e os rios. Entrego-lhes as
estrelas e entrego-lhes a mim mesmo. Seus também são os animais mudos.
Cuidem deles com bondade, mas não lhes sigam os caminhos, sob pena de
perder a fala. Pois deles foram gerados e a eles poderão retornar. Não o
façam.
– Não o faremos, Aslam, não o faremos – disseram todos.
Mas uma gralha atrevida acrescentou em voz alta: “Deixe conosco!”,
quando todas as outras vozes já haviam cessado; as palavras soaram
claramente no solene silêncio. A gralha ficou tão encabulada que escondeu
a cabeça sob as asas como se quisesse dormir. E todos os outros animais
passaram a fazer barulhos engraçados, jamais ouvidos em nosso mundo: é