Page 67 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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assim que eles riem. Tentaram a princípio conter o riso, mas Aslam lhes
                  disse:

                         –  Riam  sem  temor,  criaturas.  Agora,  que  perderam  a  mudez  e
                  ganharam o espírito, não são obrigados a manter sempre a gravidade. Pois
                  também o humor, e não só a justiça, mora na palavra. Assim sendo, riram-
                  se  todos  a  valer.  E  foi  a  maior  festa  quando  a  própria  gralha  retomou
                  coragem, subiu à cabeça de Morango, ruflou as asas e disse:

                         –  Aslam!  Aslam!  Sou  eu  a  autora  da  primeira  piada?  Todas  as
                  gerações serão informadas de que fui eu a fazer a primeira piada.

                         – Não, minha amiga – respondeu o Leão. – Não foi você que fez a
                  primeira piada: você apenas foi a primeira piada.
                         Aí é que a turma se riu às bandeiras despregadas. A gralha não se
                  agastou;  pelo  contrário,  começou  também  a  rir  alto,  até  que  o  cavalo
                  sacudiu a cabeça e ela perdeu o equilíbrio e caiu; mas antes de bater no
                  chão lembrou-se das asas (novinhas em folha).

                         – Nárnia está fundada – disse Aslam. – Zelemos por mantê-la livre.
                  Convocarei alguns para o meu Conselho. Cheguem até mim o chefe Anão,
                  o Deus do rio, o Carvalho, o Sr. Coruja, o casal Corvo e o Sr. Elefante.
                  Devemos  parlamentar.  Pois,  apesar  de  o  mundo  não  ter  mais  que  cinco
                  horas de idade, o mal já penetrou nele.

                         As criaturas nomeadas adiantaram-se e seguiram o Leão. Os outros
                  começaram a conversar, dizendo coisas assim: “– Que é que penetrou no
                  mundo? – O nau – Que é o nau? – Não, ele disse o vau. – Mas o que é o
                  vau?”

                         –  Olhe,  Polly  –  disse  Digory  –,  tenho  de  ir  atrás  de  Aslam,  quer
                  dizer, do Leão. Preciso falar com ele de qualquer jeito.

                         – Você acha que a gente pode? Tenho os meus receios.
                         –  Não  tenho  outra  saída:  é  por  causa  da  mamãe.  Acho  que  só  ele
                  poderá me dar alguma coisa que faça bem a ela.

                         – Vou com você – disse o cocheiro. – Gostei do jeitão dele. E quero
                  também trocar umas idéias com o Morango.

                         Os  três  avançaram  intrepidamente  –  tão  intrepidamente  quanto
                  possível – na direção da assembléia dos bichos. Encontravam-se estes tão
                  ocupados em falar uns com os outros e fazer amigos, que só perceberam os
                  três humanos quando estes se achavam bem perto. Também não ouviram
                  tio André, que, tremendo à distância, gritava sem muita vontade de fazer
                  barulho:
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