Page 79 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                               A AVENTURA DE MORANGO






                  Digory fechou a boca e apertou os lábios. Seu mal-estar aumentava. Tinha
                  a esperança de que, acontecesse o que acontecesse, não choramingaria, nem
                  faria nada ridículo.

                         –  Filho  de  Adão,  está  disposto  a  desfazer  o  mal  que  fez  ao  meu
                  manso país de Nárnia no dia de seu próprio nascimento?

                         – Só não sei o que posso fazer. Como o senhor sabe, a rainha fugiu
                  e...

                         – Perguntei se está disposto? – disse o Leão. – Estou.
                         Passara-lhe um segundo pela cabeça a tentação boba de responder:
                  “Estou  disposto,  se  o  senhor  prometer-me  ajudar  minha  mãe.”  Mas
                  percebeu a tempo que o Leão não era criatura com a qual se podia fazer
                  barganhas.  Porém,  quando  disse  “Estou”,  pensou  na  mãe,  nas  grandes
                  esperanças que tivera, e em como agora elas estavam para morrer. Sentiu
                  um nó na garganta e lágrimas nos olhos. Deixou escapar, no entanto:

                         – Mas, por favor, por favor... o senhor não podia me dar qualquer
                  coisa que salvasse minha mãe?

                         Até aquele instante, só olhara para as patas do

                         Leão;  agora,  com  o  desespero,  olhou-o  nos  olhos.  O  que  viu  o
                  surpreendeu mais do que qualquer outra coisa. Pois a face castanha estava
                  inclinada perto do seu próprio rosto e (maravilha das maravilhas) grandes
                  lágrimas  brilhavam  nos  olhos  do  Leão. Eram  lágrimas  tão grandes  e tão
                  brilhantes, comparadas às de Digory, que por um instante sentiu que o Leão
                  sofria por sua mãe mais do que ele próprio.

                         – Meu filho, meu filho, eu sei. A dor é grande. Só você e eu nesta
                  terra sabemos disso. Sejamos compassivos um com o outro. Mas tenho de
                  pensar em centenas de anos da vida de Nárnia. A feiticeira que trouxe para
                  este mundo ainda voltará a Nárnia. Mas não precisa ser já. É meu desejo
                  plantar em Nárnia uma árvore da qual ela não ousará aproximar-se durante
                  anos  e  anos.  Assim,  esta  terra  conhecerá  uma  longa  e  luminosa  manhã
                  antes  que  qualquer  nuvem  obscureça  o  sol.  E  você  deverá  trazer-me  a
                  semente dessa árvore.
                         –  Sim,  senhor.  –  Digory  não  sabia  o  que  iria  fazer,  mas  naquele
                  momento teve a certeza de que, fosse como fosse, seria capaz de fazê-lo. O
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