Page 82 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Já de cima podiam ver Nárnia inteira, com suas campinas de muitas
cores, seus rochedos, prados e árvores, seu rio deslizando como uma fita de
mercúrio. Em poucos instantes já sobrevoavam os cumes das colinas
baixas. À esquerda, as montanhas eram bem mais altas, mas sempre
podiam ver, através de brechas, as terras azuladas do sul.
– Olhe lá na frente! – disse Digory.
Uma grande muralha de penhascos levantava-se diante deles. A luz
do sol dançando na grande cachoeira quase os ofuscava. Já voavam tão alto
que o roncar das quedas d’água parecia um leve ruído, mas ainda não
tinham alcançado os penhascos.
– Temos de fazer alguns ziguezagues – disse Pluma. – Segurem
firme.
O ar ia ficando mais frio e podiam ouvir os gritos das águias
embaixo.
– Olhe para trás, olhe! – disse Polly.
Lá estava todo o vale de Nárnia, estendendo-se até onde se podia
distinguir o brilho do mar. Já estavam tão altos que podiam avistar as
montanhas denteadas surgindo além das charnecas do norte e, ao sul,
planícies que pareciam de areia.
– Gostaria que alguém pudesse dizer-nos que lugares são esses –
falou Digory.
– Acho que eles ainda não são – comentou Polly –, quer dizer, não há
ninguém neles, nada aconteceu ainda. O mundo começou hoje.
– Pois é, mas as pessoas chegarão lá, e aí virão as histórias, entende?
– Bem, para mim, acho ótimo que ainda não tenham chegado.
Ninguém tem de aprender o que ainda não aconteceu... batalhas, datas...
essa chatice toda.
Estavam acima dos penhascos e, em poucos minutos, o vale de
Nárnia sumiu atrás deles. Voavam sobre um país selvagem, de montes
escarpados e florestas escuras, seguindo ainda o curso do rio. Mas o sol
agora feria-lhes os olhos e já não podiam ver com nitidez naquela direção.
O sol descambou lentamente, até que o céu do ocidente parecia uma
fornalha de ouro derretido. Por fim escondeu-se por trás de um pico que se
recortava no fulgor como uma figura de papelão.
– Não está muito quentinho aqui em cima – disse Polly.
– E as minhas asas estão começando a doer – disse Pluma. – Não
vejo nenhum sinal do vale com o lago. Que tal se baixássemos e