Page 89 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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outros, gritando “Depressa, Polly, Pluma!”, a feiticeira já galgara o muro,
                  ou o pulara, e estava bem atrás dele novamente.

                         – Fique onde está! – gritou Digory, voltando-se para encará-la. – Ou
                  vamos desaparecer. Não se aproxime mais um dedo.

                         – Não seja bobo! – disse a feiticeira. – Por que está fugindo de mim?
                  Não quero fazer-lhe mal. Se não quiser ouvir-me, deixará de aprender uma
                  coisa que o fará feliz para o resto da vida.

                         – Muito obrigado, não quero ouvir coisa nenhuma.
                         Mas ouviu.

                         – Sei a missão que o trouxe aqui – continuou a feiticeira. – Era eu
                  que estava perto de vocês na noite passada, ouvindo tudo. Você colheu o
                  fruto do jardim. Está no seu bolso. E vai levá-lo, sem provar dele, para o
                  Leão: para que ele coma o fruto; para que ele use o fruto. Simplório! Sabe
                  que  fruto  é  este?  É  a  maçã  da  eterna  juventude.  Sei  por  ter  provado,  e
                  também já sei que jamais ficarei velha ou morrerei. Coma a maçã, rapaz,
                  coma  a  maçã...  e  viveremos  os  dois  eternamente  e  seremos  reis  deste
                  mundo... ou do seu próprio mundo, se resolver voltar para lá.

                         – Muito obrigado. Acho que não vou querer ficar vivo depois que os
                  outros  todos  que  conheço  já  tiverem  ido.  Prefiro  viver  o  tempo  normal,
                  morrer e ir para o céu.

                         – Mas... e a sua mamãe, que você diz adorar? – Que tem minha mãe
                  com isto?

                         – Não está vendo, bobo, que uma mordida nessa maçã pode curar a
                  sua mãe? Está no seu bolso. Aqui estamos por nossa conta. O Leão está
                  muito longe. Use seu poder mágico e volte para o seu mundo. Daqui a um
                  minuto poderá estar ao lado de sua mãe, dando-lhe a maçã. Cinco minutos
                  depois, ela ganhará novas cores no rosto. Dirá para você que a dor passou.
                  Depois dirá que se sente mais forte. E adormecerá. Pense nisso. Horas de
                  sono  natural,  sem  dor,  sem  drogas.  No  dia  seguinte  todos  falarão  no
                  milagre  da  cura.  Tudo  ficará  perfeito  outra  vez.  Terá  novamente  um  lar
                  feliz. E você poderá ser como os outros rapazes.
                         –  Oh!  –  balbuciou  Digory,  colocando  a  mão  na  testa  como  se
                  estivesse ferido. Sabia que tinha de fazer uma escolha terrível.

                         –  Que  fez  o  Leão  por  você?  Tem  de  ser  escravo  dele?  O  que  ele
                  poderá fazer quando você estiver no seu mundo? E o que irá pensar sua
                  mãe se souber que teve nas mãos o poder que a salvaria? E o que daria vida
                  ao coração partido de seu pai? Vai preferir, então, executar missões para
                  um animal selvagem em um mundo estranho, um mundo com o qual nada
                  tem a ver?
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