Page 94 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Um dos elefantes levantou tio André com a tromba e o colocou aos
pés do Leão. O homem estava apavorado demais para mover-se.
– Por favor, Aslam – falou Polly –, poderia dizer uma coisa que...
desapavorasse ele? E depois poderia dizer algo que o impedisse de voltar a
este lugar?
– E acha que ele ainda quer voltar? – indagou Aslam.
– O caso é que ele quer mandar outra pessoa; está muito
entusiasmado com a barra de ferro que virou poste e acha...
– O que ele está pensando é uma grande tolice – interrompeu Aslam.
– Este mundo só estará explodindo de vida por poucos dias, pois a canção
com que o chamei à vida ainda vibra no ar e retumba na terra. Não será por
muito tempo. Mas não posso dizer isso a este velho pecador, como também
não posso consolá-lo; ele mesmo se colocou fora do alcance da minha voz.
Se eu lhe falasse, ouviria apenas rosnados e rugidos. Oh, Filhos de Adão,
com que esperteza vocês se defendem daquilo que lhes pode fazer o bem!
Mas eu lhe ofertarei a única dádiva que é capaz de receber.
Inclinou a grande cabeça, quase com tristeza, e soprou no rosto
aterrorizado do feiticeiro.
– Durma. Afaste-se por algumas horas de todos os tormentos que
forjou para si mesmo.
Tio André caiu embolado, já de olhos cerrados, e começou a ressonar
tranqüilamente.
– Levem-no e deixem que durma em paz. Agora, anões, mostrem que
são bons joalheiros: quero que façam duas coroas reais.
Um bando inimaginável de anões correu na direção da Árvore
Dourada. Antes que se pudesse dizer faca, arrancaram as folhas e alguns
galhos. Só então as crianças perceberam que a árvore era realmente de
ouro, e do melhor. Só poderia ter nascido das moedas caídas do bolso de tio
André. Como por milagre foram surgindo montes de lenha seca, uma
pequena bigorna, martelos, foles e tenazes. Como os anões gostavam desse
trabalho! Num instante o fogo crepitava, os foles sopravam, o ouro
derretia-se, os martelos retiniam. Duas toupeiras trouxeram um monte de
pedras preciosas. Em pouco tempo, duas coroas tomavam forma nas mãos
dos hábeis joalheiros. Não coisas pesadonas e feias como as coroas
modernas, mas aros leves, delicados e bem torneados, que podiam ser de
fato usados com elegância. A coroa do rei era adornada de rubis; a da
rainha, de esmeraldas.