Page 92 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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PLANTA-SE UMA ÁRVORE
– Agiu bem – disse Aslam, sacudindo a terra com a vibração de sua voz.
Todos os narmanos ouviram aquelas palavras, e Digory percebeu que
aquela história seria transmitida de pai a filho por centenas de anos e talvez
para sempre. Mas não corria o risco de sentir-se presunçoso por isso, pois
estava frente a frente com Aslam. Podia agora olhar nos olhos do Leão.
Esquecera seus problemas e sentia-se feliz.
– Agiu bem, Filho de Adão – disse o Leão outra vez. – Para obter
este fruto, passou fome e sede e derramou lágrimas. Só a sua mão lançará a
semente da árvore que protegerá Nárnia. Semeie a maçã perto do rio, onde
a terra é macia.
Digory assim fez. Estavam todos tão quietos que se pôde ouvir o
baque da maçã no barro.
– Está lançada – disse Aslam. – Passemos à coroação do rei Franco
de Nárnia e da rainha Helena.
Só então as crianças notaram o casal. Vestiam belas e estranhas
roupagens. Quatro anões seguravam o manto do rei, e quatro ninfas, o
manto da rainha. Traziam as cabeças descobertas, mas Helena soltara os
cabelos e tinha agora uma aparência muito melhor. Mas não eram os
cabelos e as vestimentas que os tornavam tão diferentes. As fisionomias
apresentavam uma expressão diferente, principalmente a do rei. Sumira de
seu rosto a rispidez e a astúcia adquiridas nas duras ruas de Londres. O que
se via era a coragem e a bondade que sempre possuíra. A causa disso talvez
fosse a atmosfera do mundo novo, ou a convivência com Aslam, ou as duas
coisas.
– Palavra – disse o cavalo para Polly –, meu velho patrão mudou
quase tanto quanto eu! Agora é mesmo um patrão de verdade.
– Está certo – falou Polly –, mas não precisa zumbir no meu ouvido;
faz cócegas.
Aslam disse:
– Desfaçam o emaranhado que vocês fizeram com aquelas árvores.