Page 96 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Ah, estou entendendo – disse Polly. – Como ela comeu a maçã sem
                  boa intenção, não ficará sempre jovem e tudo...

                         Aslam sacudiu a cabeça:

                         –  Infelizmente,  ficará  sempre  jovem  e  tudo  o  mais.  As  coisas
                  funcionam de acordo com o que são. Ela possui o poder e a perenidade de
                  uma  deusa.  Mas  a  eternidade  com  um  coração  mau  é  a  perenidade  da
                  desgraça. Todos conquistam o que desejam, mas nem sempre se satisfazem
                  com isso.

                         – Eu mesmo... quase comi uma maçã – disse Digory.
                         –  O  fruto  sempre  age,  filho,  mas  não  age  no sentido  da  felicidade
                  para aqueles que o arrancam em causa própria. Se um narniano roubasse
                  um fruto e aqui o plantasse, protegeria Nárnia, mas transformaria este país
                  em um império poderoso e cruel como Charn. E a feiticeira procurou tentá-
                  lo de outro modo, não é, meu filho?

                         – Sim, Aslam. Queria que eu levasse uma fruta para minha mãe.

                         –  Você  a  teria  curado,  se  o  fizesse;  mas  não  teria  conquistado  a
                  alegria, nem a sua, nem a dela. Chegaria o tempo em que se arrependeriam.

                         Digory  ficou  mudo,  pois  as  lágrimas  o  agitavam,  desfeitas  as
                  esperanças de salvar a mãe. No entanto, ao mesmo tempo, sabia que o Leão
                  sabia o que teria acontecido, e que deviam existir coisas mais pavorosas do
                  que a morte de quem se ama. Aslam falava agora quase em murmúrios:

                         – É o que teria acontecido com o fruto roubado, meu filho. Mas não é
                  o que acontecerá. O que lhe darei agora há de trazer-lhe a alegria. Em seu
                  mundo, o fruto não trará a vida eterna, mas terá o poder de curar. Vá. Colha
                  um fruto da árvore.
                         Por um segundo Digory não entendeu nada. Era como se o mundo
                  estivesse virado pelo avesso. Depois, como se sonhasse, caminhou para a
                  árvore. O rei e a rainha e as criaturas todas o aplaudiam. Colheu a maçã e
                  guardou-a no bolso. Depois, voltou até Aslam.

                         –  Por  favor,  posso  ir  para  casa  agora?  Esquecera-se  de  dizer
                  “obrigado”, mas Aslam compreendeu que ele estava agradecido.
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