Page 93 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Só então Digory percebeu que quatro árvores tinham sido amarradas,
a fim de formar uma espécie de jaula. Os dois elefantes e alguns anões
desfizeram os laços. Havia três coisas lá dentro: a primeira era uma
pequena árvore que parecia de ouro; a segunda era uma árvore nova que
parecia de prata; mas a terceira era uma coisa lamentável, de roupas
enlameadas, toda arqueada entre as duas. Digory exclamou:
– Puxa! É o tio André!
Temos de voltar um pouco atrás para explicar o que se passou. Os
bichos, como sabemos, tinham tentado plantá-lo e regá-lo. Quando voltou a
si, tio André se viu empapado, atolado na terra até os quadris e cercado de
animais selvagens. Não é de espantar que tenha começado a berrar e uivar.
Foi de certo modo uma boa coisa, pois isso afinal convenceu a todos
(principalmente o javali) de que estava vivo. Então, eles o desenterraram
(suas calças estavam daquele jeito!). Logo que livrou as pernas, tio André
tentou fugir, mas uma rápida trombada do elefante enlaçou-lhe a cintura.
Decidiram todos que deveria ser posto a salvo em algum lugar até o retorno
de Aslam. E foi assim que fizeram uma espécie de gaiola ou cesto em torno
dele. E ofereceram-lhe alimentos.
O burro juntou grandes montes de cardos, atirando-os lá dentro; tio
André pareceu indiferente aos cardos. Os esquilos fizeram um bombardeio
de nozes, mas o tio, cobrindo a cabeça com as mãos, evitou as nozes.
Vários pássaros atiraram-lhe minhocas. O urso foi o mais gentil. Tendo
encontrado antes uma colméia de abelhas, em vez de servir-se, o que faria
com grande contentamento, trouxe-a para tio André. Foi o pior da festa; a
colméia bateu na cara do homem (nem todas as abelhas estavam mortas). O
urso, que pouco se importaria com uma colméia na cara, não podia
entender por que tio André recuou tão depressa e se jogou ao chão. Azar:
caiu em cima dos cardos. “De qualquer forma – como disse o javali –, um
bom bocado de mel entrou na boca da criatura, e isso deverá fazer-lhe
algum bem.” já estavam gostando do bicho estranho e esperavam que
Aslam lhes permitisse ficar com ele. Alguns mais inteligentes já achavam
que os ruídos que saíam de sua boca, pelo menos alguns, tinham sentido. E
deram-lhe o nome de Conhaque, pois era esta a palavra que saía com mais
freqüência da boca de tio André.
Por fim, à noite, tiveram de deixá-lo. Aslam passou o dia todo
atarefado, instruindo o rei e a rainha, sem poder ocupar-se do “pobre e
velho Conhaque”. Fome ele não passou, com aquelas nozes todas e com as
bananas e maçãs atiradas aos montes; mas não se pode dizer que tenha tido
uma noite agradável.
– Tragam aquela criatura – disse Aslam.