Page 47 - Os Manuscritos do Mar Morto
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Asaf” (1Cr 25:1). O papel dos levitas foi extremamente importante para o
desenvolvimento da música e por sua propagação entre a população israelita.
A continuidade da tradição bem estabelecida dependia principalmente de
achar um método para a melhor transmissão possível da prática musical
corrente para gerações vindouras. Os cantores levitas, os guardiões
escolhidos da tradição, foram compelidos a inventar e a desenvolver mais
amplamente tal método (SENDREY, 1964:112, apud FREDERICO,
2001:78).
Com o advento das sinagogas (a partir do exílio babilônico, séc. VI a.C.), a
música sacramental assume uma nova forma. Passa a não necessitar dos instrumentos
musicais como antes; por outro lado, desenvolve-se no caráter lírico, ambientado por
uma liturgia de tipo doméstico. Ao contrário da música instrumental, a música vocal –
recitativa de preces e textos sagrados – ganhou mais espaço e pôde se desenvolver em
detrimento dessa nova conjuntura espacial. A inculcação a partir de então, dava-se
através de formas musicais mais particularizadas, como a cantilena, também conhecida
como salmodia ou recitativo; uma espécie de “ladainha” como conhecemos
popularmente.
Os textos bíblicos do AT não trazem detalhes tão específicos sobre como era
realizado o cerimonial envolvendo o canto. No entanto, o que se pode extrair é
suficiente para saber que a prática musical, envolvendo material hinário, era comum à
sociedade judaica em todas as esferas sociais.
O livro bíblico que reúne o maior material relacionado à liturgia é o livro de
Salmos, conhecido no texto hebraico por sefer tehillîm. Neste livro pode-se encontrar
diversos gêneros literários como hinos, súplicas, ações de graças, e outros que pairam
entre esses gêneros. Estes escritos eram utilizados de forma coletiva ou individual, de
acordo com o momento em que o indivíduo se encontrava (e.g. cântico das subidas,
caps. 120-134). Todavia, não se pode provar que todos estes salmos eram utilizados
liturgicamente, ou que de fato fossem cantados nestes momentos (cf. ALTER, 1997:
266).
O uso dos tehillîm na liturgia judaica foi uma constante até a destruição do
Segundo Templo em 70 d.C., inclusive sendo usado por comunidades cristãs até este
período (cf. FREDERICO, 2001:85). Através deles, o fiel era exortado:
celebrai a Iahweh com harpa,
tocai-lhe a lira de dez cordas,