Page 52 - Os Manuscritos do Mar Morto
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                                               e a flauta do louvor,
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                                         24. E quem entre tuas criaturas
                                               pode contar toda a tua glória?
                                               Pela boca de todos teu nome é louvado,
                                         25. por todo o sempre te bendizem segundo seu conhecimento,
                                               dia após dia proclamarão com uma voz gozosa.
                                         33. (...) Puseste na boca de teu servo
                                               ações de graças, louvores,
                                         34. súplicas, e a resposta da língua.


                         Estas são evidentes indicativas de que a prática  hinária era parte  fundamental
                  dentro  da  liturgia  qumrânica.  O  referencial  musical  como  feito  nas  sinagogas  da

                  Palestina não foi abdicado por Qumran.

                         A utilização de instrumentos musicais também é citada nesse e em outros textos,
                  embora saber se  de  fato  eram usados  é  difícil afirmar. Existe  a possibilidade  de  que

                  estes fossem apenas citados em sentido figurado (levando em consideração que o culto
                  era aberto somente a iniciados e efetuado dentro de um ambiente reduzido) como em

                  algumas passagens referentes à música encontradas no NT.
                         Apesar de ser um material rico, é difícil tentar recriar como se dava o cerimonial

                  em  que  os  textos  hinários  eram  recitados  utilizando-se  apenas  dos  próprios  textos  –

                  problema similar ao enfrentado na tentativa de se recriar o ambiente litúrgico cristão. Os
                  manuscritos  que  nos  ajudam  a  compreender  como  os  hinos  eram  utilizados  nas

                  cerimônias são principalmente o 1QS e o CD, textos normativos da comunidade. Em

                  uma  espécie  de  apêndice  de  1QS,  a  Regra  da  Congregação  (=1QSa  e  1Q28a), há  a
                  descrição de como se dava uma refeição cerimonial:



                                         E  quando  se  reunirem  à  mesa  da  comunidade  ou  para  beber  o  mosto,  e
                                         estiver preparada  a mesa da  comunidade  e misturado  o mosto para beber,
                                         que  ninguém  estenda  sua  mão  à  primícia  do  pão  e  do  mosto  antes  do
                                         sacerdote, pois ele é quem bendiz a primícia do pão e do mosto e estende
                                         sua mão para o pão diante deles. (...) E depois abençoará toda a congregação
                                         da  comunidade,  cada  qual  de  acordo  com  sua  dignidade.  E  segundo  esta
                                         norma atuarão em cada refeição, quando se reunirem ao menos dez homens
                                         (2:17-22).


                         A maneira clara com que o autor descreve o cerimonial dá-nos luz para entender

                  como eram utilizados os textos litúrgicos. Outros indícios (não tão transparentes) podem
                  ser encontrados nos livros jurídicos que nos ajudam a compreender seu uso. As críticas

                  desferidas pelos autores de Qumran contra Israel nos ajudam a refazer esse quadro. Por

                  exemplo,  no  CD  3:12-15,  o  autor  condena  Israel  por  “seus  sábados  santos  e  suas
                  festividades” (certamente por considerá-los desviados da Lei) e em 1QS 1:13-15 faz-se
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