Page 48 - Os Manuscritos do Mar Morto
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cantai-lhe um cântico novo,
cantai-lhe com arte na hora da ovação! (33:2-3).
Outros salmos ressaltam a importância de louvar a Deus (encarada como ordem
divina pela letra da Lei, e.g. 81:3-5), inclusive com a utilização de instrumentos (43:4;
81:2-4; 92:1-3; 98:4-6; 150:3-6 etc.).
No NT não temos a mesma possibilidade de descrever como se davam os
cerimoniais cristãos (ao menos das comunidades descritas no NT) com a mesma
eficácia com que podemos relatar sobre o judaísmo no AT. A falta de informações
concretas sobre a organização eclesial não permite que saibamos como a música era
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utilizada pelas comunidades cristãs. Apenas com referências e citações indiretas pode-
se recriar uma parca idéia de como a música era usada nas igrejas.
Instrumentos musicais também são citados no NT, mas apenas em ilustrações e
não em uso pelos concrentes (e.g., Mt 6:2; 11:17; Lc 7:32; 1Cor 13:1; 14:7-8; Ap 5:8).
A renúncia a instrumentos musicais ocorreu pelo motivo destes serem utilizados em
festividades pagãs. Para que houvesse a pureza no culto cristão, o banimento dos
instrumentos musicais tinha de acontecer (cf. FREDERICO, 2001:94).
Em outras passagens, por sua vez – inclusive nos Evangelhos – , acham-se
citações literais do uso da música (Mt 9:23; Lc 15:25). Uma citação direta, a descrita em
Mt 26:30 (=Mc 14:26), insta que o próprio Jesus participou de um canto hinário após
ser realizada a Última Ceia. Passagens como estas, porém, não provam sobre seu uso já
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por “cristãos”. No fundo, mostram ao menos que os redatores sabiam do que estavam
falando.
Os textos encontrados nos Evangelhos relatam sobre o primeiro estágio cristão,
o da pregação de Jesus. Embora sejam livros cristãos canônicos, os Evangelhos não
fazem citações do uso de hinos por parte de comunidades cristãs emergentes ou mesmo
por cristãos convertidos (analisando em um grau menor). Pelo que se sabe, os
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Evangelhos foram redigidos no segundo estágio do cristianismo, mas ainda assim,
28 O que é razoável de se pensar, já que essas comunidades ainda não possuíam uma desvinculação
acentuada com o judaísmo.
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O testemunho descrito em At 11:26, mostra a primeira vez que os seguidores de Jesus recebem o título
de “cristãos”. Em outra passagem, At 24:5, apresenta os seguidores de Jesus como pertencentes à seita
dos “nazarenos”, título que provavelmente há muito já era usado para designá-los. Essa é uma prova
bíblica concreta sobre o início do lento processo de desvinculação entre cristianismo e judaísmo.
30 Deve-se levar em consideração a possível “Fonte Q”, que supostamente serviu de base para a redação
do Evangelho de Marcos, e daí (ou até) aos outros sinóticos. Segundo Woodruff, a Fonte Q começou a ser