Page 53 - Os Manuscritos do Mar Morto
P. 53
52
um apelo para a importância das festividades não se realizarem em outras datas (por
serem taxadas como “erradas” cronologicamente, devido ao uso de um calendário
35
diferente em Qumran; e pela maculação da inteira sociedade israelita).
As festividades que eram realizadas em Israel tinham a música como uma de
suas principais manifestações. Os textos hinários encontrados entre os MQ são
exemplos de que estas festividades também existiam entre os sectários.
No calendário de Qumran figuravam festividades como a das Semanas, a
36
Páscoa, o Kippur, a festa dos Tabernáculos, entre outras. Mesmo sendo uma
comunidade separada, com um calendário diferenciado, possuíam um esquema
particular de festas: rituais de Renovação da Aliança, abluções e refeições comunais;
todos precedidos por cânticos de origem sectária. Isso prova que os hinos eram usados
de forma corrente na comunidade de Qumran.
É bastante complicado saber sobre a função destes hinos dentro da comunidade.
Podemos notar que uma parte destes era diretamente dedicada ao culto litúrgico
comunitário. Por exemplo, com uma leitura atenta, percebemos que o hino 21 de 1QH
certamente refere-se à Renovação da Aliança, enquanto o 22 era utilizado quando da
entrada de um novo convertido à comunidade. Entretanto, outros hinos, aqueles que se
apresentam claramente como fruto de elucubrações sapienciais particulares dos poetas
qumrânicos, têm probabilidade maior de não terem sido utilizados no culto comunitário.
Segundo Martínez, mesmo a divisão entre os hinos que são particulares ou comunitários
é difícil conceber (cf. MARTÍNEZ, 1994:347). Embora isso seja um fato, a maior parte
dos estudiosos prefere acreditar que todos os hinos eram utilizados nos cerimoniais, já
que abarcavam um conteúdo comum para a comunidade.
Sobre a função teológica deste material hinário, pode-se dizer que tinham
importância próxima a algo místico, em que era reconstruído um modelo celeste de
adoração dentro da comunidade na hora da comunhão, cujos hinos tinham uma função
especial dentro desse ritual (cf. SMARGIASSE, 2003:10-11). Uma espécie de “êxtase”
espiritual descreveria a situação dos concrentes no momento da reunião. Não algo
próximo aos ritos ditos “primitivos” normalmente usados como exemplo, mas uma
experiência “racional” e regrada que os levava à ascensão espiritual. Seria difícil de ser
35
A ênfase nessa questão dava-se graças à Qumran se utilizar de um calendário solar, diferentemente de
Jerusalém que possuía um calendário lunar (cf. MARTÍNES, 1996:77).
36
Essas festividades correspondiam às realizadas em Jerusalém, salvo na questão cronológica. Qumran,
por sua vez, ampliou ainda mais o leque de festividades. Essas estavam ligadas às novas situações que
passaram a existir a partir da fundação da comunidade. No Rolo do Templo 13:8-30:2, há uma série de
festividades descritas que são particulares a Qumran.