Page 55 - Os Manuscritos do Mar Morto
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cópias manuscritas de livros qumrânicos que sobreviveram fora do limites geográficos
em que foram redigidos.
Em um dos poucos comentários que podemos encontrar sobre o pluralismo do
movimento essênio, Martínez ressalta:
As informações sobre os essênios proporcionadas pelas fontes clássicas são
precisas ao descrever o movimento essênio como um movimento de grande
envergadura e de tipo nacional, cujos membros não vivem separados do
resto do judaísmo mas se acham disseminados por todas as cidades do país.
Reduzir o essenismo ao fenômeno marginal que é Qumran supõe deixar sem
explicação o movimento não qumrânico, um fenômeno mais amplo e mais
importante que o fenômeno de Qumran (1994:39).
Não acredito que Qumran tenha sido apenas um “fenômeno marginal” como
expresso pelo autor, ainda porque o local parece ter sediado festividades de maior
envergadura e abriga em seu cemitério corpos femininos (a julgar que os de Qumran
tenham sido celibatários, pelo que parece). Quanto à informação de que o essenismo foi
um movimento mais amplo e diversificado, não há objeção. Para Vermes, que dá uma
importância muito maior ao assentamento, Qumran era um centro onde se reuniam
pactuantes tanto do deserto como das cidades. Era em Qumran que se dava o ritual de
Renovação da Aliança em que se reuniam essênios que inclusive compartilhavam
hábitos diferentes, principalmente no que tange ao celibato (cf. 1995, passim). Esse é
um fato que entra em acordo com as descrições de Josefo e reforça a idéia de
multiplicidade do movimento.
No que concerne à redação dos hinos claramente qumrânicos, alguns eruditos
acreditam que ao menos uma parte (outros acreditam que todos) tenha sido redigida
pelo Mestre da Justiça. Um indício de que isso seja verdadeiro é encontrado em alguns
hinos que se utilizam do pronome pessoal “eu” em um sentido mais estrito, autoritativo;
não como sendo um “eu” representativo de um povo ou uma classe – o Novo Israel
figurado pela Nova Aliança – , mas sim em um sentido particular, individual. Segue
como exemplo um trecho do hino 20 de 1QH:
E eu, o Instrutor, te conheci, Deus meu,
pelo espírito que me deste,
e escutei fielmente teu segredo maravilhoso
por teu santo espírito.
Abriste em meu interior
o conhecimento do mistério de tua sabedoria,

