Page 59 - Os Manuscritos do Mar Morto
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feita no judaísmo. Referente à procedência, é difícil saber se os hinos que Paulo cantava
eram provenientes dos salmos bíblicos, salmos sectários ou não canônicos, ou ainda
composições hínicas judaico-cristãs oriundas das comunidades às quais Paulo trocava
influências (o que para o período é difícil de se confirmar uma vez que as comunidades
eram de pouca idade).
Um texto ainda mais importante e significativo que os citados acima é o de 1Cor
14:26. Este relato é extremamente elucidativo para a compreensão de como se dava a
liturgia das comunidades em contato com Paulo. Diz-nos: “Quando estais reunidos,
cada um de vós pode cantar um cântico, proferir um ensinamento ou uma revelação,
falar em línguas ou interpreta-las; mas que tudo se faça para a edificação!”. Paulo
exortava continuamente os cristãos a serem seus “imitadores” (1Cor 4:16; 11:1; Fl
3:17). O texto de 1Cor 14:26 se caracteriza por sua imperatividade. Sabemos, portanto,
que Paulo em orações cantava louvores a Deus, mais do que isso, dizia que os cristãos
também deviam assim fazer. Ótimo exemplo, esta passagem genuinamente paulina
apresenta um vislumbre sobre a orientação tida pelas comunidades cristãs.
Estes são pequenos, porém indícios concretos de que a prática hinária esteve
presente nas nascentes comunidades cristãs.
Alguns especialistas instam que uma parte do material hinário utilizado nas
primeiras comunidades cristãs não teve influência apenas do judaísmo ou do helenismo,
mas também de literatura sectária. Nesse último aspecto, pode-se citar o caso particular
de Qumran. Suas influências são percebidas em alguns livros canônicos e várias destas
se encontram nas epístolas paulinas.
Algumas das contribuições paulinas ao cristianismo são resultadas de
experiências de sua pré-conversão ao cristianismo e posteriormente de seu diálogo com
comunidades cristãs dispersas; em que primeiramente ele recebeu influências e
posteriormente as trocou com estas comunidades.
Relativo a isso, o professor Woodruff destaca importantes elementos
comprobatórios de que doutrinas paulinas possuíam uma pré-história, atestadas em suas
próprias epístolas. O autor identifica que:
– ele (Paulo) diz que “recebeu” uma tradição;
– ele corrige uma prática existente;
– ele se refere a uma doutrina ou prática que ele aceita, mas que não tem
vocação para promover;
– o ensino dele é semelhante ao de Jesus;