Page 58 - Os Manuscritos do Mar Morto
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Já tornado “cristão” após o milagroso evento ocorrido em sua ida à cidade de
Damasco (At 9:3-9), Paulo passa a ser a principal figura no desenvolvimento e
expansão do cristianismo no mundo bíblico de seu período. Foram muitas as peripécias
enfrentadas por ele durante os anos de sua pregação (cf. 2Cor 11:23-28), o que mostra
quanto denodo teve em seu relacionamento com as comunidades cristãs relacionadas a
ele.
Além de experiências particulares, Paulo foi contemporâneo de acontecimentos
importantes de seu período em vários campos. Embora sua data de nascimento e morte
sejam incertas, presume-se através das parcas informações bíblicas que ele tenha
nascido aproximadamente no início da era cristã e foi morto anos antes da destruição de
Jerusalém (cf. PIXLEY, 2002:111 n. 42/43). Este foi um período de modificações
intensas para a Palestina tanto no campo social quanto no político, que afetaram
profundamente a vida de toda a população.
Todas essas experiências vivenciadas por Paulo certamente fizeram com que
novas formas de pensar o mundo em sua volta fossem construídas. A necessidade de
novas explicações para sua realidade religiosa é o que fazia com que existisse uma
amálgama de conceitos em suas respostas. 43
O desenvolvimento de sua teologia notada em seu corpus paulinum, demonstra
um amadurecimento que por mais inovador que seja, recebeu uma parcela de
influências do ambiente vivido. Por exemplo, o próprio Gamaliel, renomado instrutor
farisaico de Paulo que certamente muito o influenciou, parece ter sido um indivíduo
bem tolerante a outras idéias e crenças. 44
Não há dúvida de que parte do cruzamento de conceitos religiosos feito por
Paulo foi aproveitado do judaísmo. Um dos quesitos que ele utilizou desse ambiente foi
no tocante a prática e a literatura hinária.
Uma citação clara de que Paulo fazia uso disso está registrada em At 16:25. Ali,
Paulo e Silas, “em oração”, cantavam “louvores a Deus” enquanto estavam na prisão.
Similar a este texto, aos coríntios Paulo diz: “cantarei com meu espírito” (1Cor 14:15).
Essas são indicações evidentes de que ele continuou partícipe da tradição hinária como
43
Devemos lembrar que nem tudo em sua teologia é resultado de empréstimos, mas caracteriza-se
também por elementos particulares.
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Em Atos 5:34-39, o registro sobre Gamaliel diz que a forma de tratar discípulos cristãos não
necessitava ser agressiva, afinal, se “sua obra provêm dos homens, destruir-se-á por si mesma; se vem de
Deus, porém, não podereis destruí-los. E não aconteça que vos encontreis movendo guerra contra Deus”.
Atitude bem diferente do que se podia esperar de um membro do Sinédrio naquela época, devido a tantos
problemas de ordem religiosa.