Page 49 - Os Manuscritos do Mar Morto
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                  discorrem sobre acontecimentos do primeiro estágio, refletindo um ambiente puramente

                  judaico.
                         O  ideal,  nesta  busca  por  indícios  que  apontem  para  a  manutenção  da  prática

                  musical  nas  comunidades  cristãs,  é  investigar  os  textos  que  refletem  estágios
                  posteriores.  Isso,  no  entanto,  torna  ainda  mais  reduzido  o  número  de  referências

                  encontradas  nos  textos  canônicos,  embora  estas  escassas  referências  sejam
                  extremamente significativas para compreender seu uso entre os cristãos.

                         Essas  comunidades  continuaram  a  fazer  uso  de  certos  elementos  do  culto

                  judaico, porém; a ênfase do culto cristão era mais voltada para a eucaristia, de cunho
                  doméstico, ao contrário da realizada no Templo (e em menor grau nas sinagogas) com

                  suas cerimônias, rituais e organização eclesial (cf. FREDERICO, 2001:84).
                         A “distância” entre a sinagoga e as comunidades cristãs ocorreu paulatinamente.

                  Cristãos ainda utilizavam o Templo para prestação do culto (At 3:1; 2:46). À medida
                  que elementos novos foram sendo adotados pelas comunidades cristãs, o tipo de culto

                  cristão tomou um corpo maior e mais diferenciado.

                         As  primeiras  comunidades  cristãs  eram  incentivadas  a  louvar  a  Deus  com
                  “salmos, hinos, e cânticos espirituais” (Ef 5:19; Cl 3:16). Ambos os textos são seguidos

                  de expressões que são peculiares ao modo de orar judaico, utilizadas em orações mais

                  antigas  e  contemporâneas.  Em  Ef,  o  autor  segue  com  uma  berakah  (“bendição”  ou
                  “ação de graças”, v. 20), assim como em Cl (v. 17). Discute-se há muito sobre a autoria

                  destas duas epístolas, se foram ou não compostas por Paulo. Na maioria dos casos elas
                  são atribuídas a seguidores da teologia paulina (após sua morte) ou a seus círculos (cf.

                  PIXLEY,  2002:112  n. 42/43;  GOULDER,  1997:515;  SCHNELLE,  1999:24-39).         31
                  Independente disso, os dois textos representam um estágio em que as comunidades já

                  dispunham  da  orientação  sobre  como  se  devia  prestar  louvor  a  Deus.  Por  sua

                  importância, com uma forma clara de admoestação, estes são textos sempre lembrados
                  atualmente na liturgia de algumas comunidades religiosas.

                         Em outras raras passagens do NT, pode-se ver mais do que uma citação à música
                  e sim uma orientação desferida de forma imperativa por parte do autor. Isso acontece no

                  caso da epístola a Tiago, quando diz: “Está alguém alegre? Cante” (5:13).



                  redigida por um grupo cristão na Síria Oriental na década de 40 d.C. Esta comunidade, segundo o autor,
                  teve  contato  com  o  apóstolo  Paulo  antes  da  compilação  de  Q,  já  o  iniciando  doutrinariamente  (cf.
                  1995:81, n. 22).
                  31  As referências à música citadas em livros considerados estritamente paulinos ou citações a Paulo e o
                  uso da música por sua parte são trabalhadas à frente.
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