Page 205 - As Viagens de Gulliver
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Roguei-lhe,  então,  para  que  pacientemente  escutasse  a  minha  história,
      desde que pela última vez deixara a Inglaterra, até ao momento em que ele me
      descobrira.  E,  como  a  verdade  sempre  impressionou  espíritos  racionais,  este
      homem de bem e de valor, que, além de tudo, era culto e tinha muito bom senso,
      imediatamente se convenceu da minha veracidade. Mas, a confirmar ainda mais
      tudo  o  que  lhe  dissera,  pedi-lhe  que  desse  ordem  para  que  trouxessem  o  meu
      armário,  cuja  chave  tinha  guardada  no  meu  bolso  (por  esta  altura  ele  já  me
      informara qual o destino dado pelos seus homens ao meu quartinho). Abri-o na
      sua presença e mostrei-lhe a pequena coleção de raridades que eu juntara no
      país,  do  qual  escapara  de  maneira  tão  singular.  Tratava-se  da  escova  que  eu
      concebera com os pêlos da barba do rei e de uma outra no mesmo material, mas
      fixa a uma apara de unha do dedo polegar de Sua Majestade, a rainha; que me
      servia para as costas. De uma colecção de agulhas e alfinetes, que tinham desde
      um pé a meia jarda de comprimento. Quatro ferrões de abelha, que pareciam
      pregos de carpinteiro; alguns cabelos da rainha; e um anel de ouro, que ela um
      dia me deu de presente, com toda a solenidade, tirando-o do seu dedo mindinho e
      enfiando-mo pelo pescoço como a um colar. Pedi ao capitão que aceitasse este
      anel  em  retribuição  de  todas  as  suas  amabilidades,  mas  ele  recusou-o
      terminantemente.  Mostrei-lhe  ainda  um  calo,  que  eu  próprio  extraíra  do  dedo
      grande do pé de uma dama de honor. Tinha o tamanho de uma maçã e enrijara
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