Page 202 - As Viagens de Gulliver
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Os marinheiros estavam todos muito espantados e faziam-me milhares de
      perguntas, a que eu não me sentia inclinado a responder. Estava também bastante
      confuso  por  ver  tantos  pigmeus,  pois  assim  os  considerava,  depois  de  durante
      tanto tempo ter acostumado os meus olhos a entes tão monstruosos como aqueles
      que deixara. Mas o capitão, Mr. Thomas Wilcocks, homem de bem e valor, de
      Shrospshire,  notando  que  eu  quase  desfalecia,  levou-me  para  o  seu  camarote,
      onde, para me confortar, me deu um estimulante e me fez deitar na sua própria
      cama,  aconselhando-me  um  pequeno  descanso,  pois  era  o  que  eu  mais
      necessitava naquele momento. Antes de adormecer, dei-lhe a entender que tinha
      alguma mobília de valor dentro da minha caixa, boa de mais para se perder; uma
      boa  rede,  uma  bonita  cama  de  campanha,  duas  cadeiras,  uma  mesa  e  um
      armário; que o meu quarto se encontrava todo forrado a seda e algodão e que, se
      ele permitisse que um dos marinheiros trouxesse a minha caixa para o camarote,
      eu abri-la-ia na sua frente para lhe mostrar os meus bens. O capitão, ouvindo-me
      proferir coisas tão absurdas, pensou que eu delirava. Contudo (suponho que para
      me  acalmar),  prometeu  satisfazer  o  meu  pedido,  e,  subindo  para  o  convés,
      ordenou  que  alguns  dos  seus  homens  entrassem  no  meu  quartinho,  de  onde
      (como mais tarde vim a descobrir) tiraram todos os meus haveres e arrancaram
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