Page 227 - As Viagens de Gulliver
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alguma, depende sempre da chuva e do bom tempo.
          No centro da ilha existe um buraco com perto de vinte e cinco toesas de
      diâmetro,  pelo  qual  descem  os  astrônomos  a  um  largo  zimbório  que,  por  este
      motivo, é chamado Flandona gagnole, ou Cava dos Astrônomos, situada a uma
      profundidade  de  cinqüenta  toesas  acima  da  superfície  superior  do  diamante.
      Nesta  cava  havia  vinte  lâmpadas  sempre  acesas  que,  pela  reverberação  do
      diamante, espalham uma grande luz por todos os lados. Este local é guarnecido
      de  sextantes,  de  quadrantes,  de  telescópios,  de  astrolábios  e  de  outros
      instrumentos astronômicos;  a  maior  curiosidade, porém,  de  que  depende  até  o
      destino  da  ilha,  é  uma  pedra  magnética  de  prodigioso  tamanho,  talhada  em
      forma de naveta de tecelão.
          Tem o comprimento de três toesas e, na sua maior espessura, mede pelo
      menos  toesa  e  meia.  Este  ímã  está  suspenso  por  um  grosso  eixo  giratório  de
      diamante, que passa pelo meio da pedra, sobre a qual gira, e que está colocado
      com tanta precisão que um fraco impulso pode fazê-la mover; está rodeada por
      um círculo de diamante com a configuração do cilindro cavado, com quatro pés
      de profundidade, com muitos pés de espessura e com seis toesas de diâmetro,
      colocado horizontalmente e mantido por oito pedestais, todos de diamante, tendo
      cada  um  a  altura  de  três  toesas.  Do  lado  côncavo  do  círculo  há  uns  entalhes
      profundos de doze polegadas, em que estão colocadas as extremidades do eixo,
      que gira quando é preciso.
          Força alguma pode deslocar a pedra, porque o círculo e os pés do círculo
      são de uma só peça com o corpo do diamante que forma a base da ilha.
          É por meio deste ímã que a ilha se levanta, se baixa e muda de lugar;
      porque, em relação a este ponto da terra em que reside o monarca, a pedra é
      munida, em um dos seus lados, de um poder atrativo e no outro de um poder
      repulsivo. Assim, quando o ímã está voltado para a terra pelo seu pólo amigo, a
      ilha desce; mas, quando o pólo inimigo está voltado para a mesma terra, a ilha
      sobe. Quando a posição da terra obliqua, o movimento da ilha é igual, porque,
      nesse  ímã,  as  forças  agem  sempre  em  linha  paralela  à  sua  direção;  é  pelo
      movimento oblíquo que a ilha é conduzida às diferentes partes dos domínios do
      soberano.
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