Page 72 - As Viagens de Gulliver
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elas educadas nos princípios da honra, justiça, coragem, modéstia, clemência,
religião e amor pela pátria. Estão sempre ocupadas com alguma coisa, excepto
nos períodos das refeições e para dormir, que são muito curtos, e nas duas horas
destinadas a diversões, preenchidas com exercícios físicos. Até aos quatro anos
são vestidos por empregados, mas, a partir daí, são obrigados a desempenhar
sozinhos essa função, por mais elevado que seja o seu nascimento. Têm,
também, serviçais, que são mulheres de idade comparável à das nossas com
cinquenta anos, para a execução dos serviços domésticos e com as quais as
crianças não têm licença para conversar. Durante as diversões, reúnem-se em
pequenos ou grandes grupos, mas sempre na presença de um professor, ou um
dos seus ajudantes, para assim se evitarem situações propícias àqueles instintos
precoces que levam ao disparate e vício, a que estão sujeitas as nossas crianças.
Os pais só as podem visitar duas vezes ao ano, e apenas durante uma hora, sendo-
lhes permitido beijar a criança à chegada e à despedida. Durante a visita dos pais
está sempre presente um professor, que não lhes permite falar em segredo aos
filhos, usar expressões de ternura para com eles ou dar-lhes brinquedos ou
guloseimas.
As despesas da educação e sustento da criança constituem um encargo da
família, que, quando não satisfeito, é cobrado coercivamente pelos funcionários
do imperador.
Os infantários para as crianças dos plebeus, mercadores, comerciantes e
artífices são administrados segundo o mesmo método; apenas com a diferença
de que as crianças destinadas a estes diversos ofícios saem do infantário desde os
sete anos de idade, para serem colocados como aprendizes, enquanto as outras,
filhas de nobres, continuam até aos quinze anos, correspondentes aos vinte e um
anos entre nós, sofrendo, no entanto, a sua clausura um afrouxamento gradual
nos últimos três anos.