Page 103 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
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Passei a adolescência e a juventude construindo possibilidades em minha mente,
               pois não queria acabar como aquelas outras mulheres.

                      E assim aconteceu, já que em 2004 fui aprovada no vestibular do curso de Letras
               Português/Inglês  da  FAFI  –  Faculdade  Estadual  de  Filosofia,  Ciências  e  Letras,  a qual

               atualmente se chama UNESPAR – Universidade Estadual do Paraná.   Orgulhosa sentia-
               me, já que era a primeira das famílias materna e paterna a ingressar na universidade e,

               mesmo deslocando-me mais de 200km todos os dias para estudar, segui meu caminho
               acadêmico.  A  FAFI  -  Faculdade  Estadual  de  Filosofia,  Ciências  e  Letras,  atualmente

               chamada de UNESPAR – Universidade Estadual do Paraná, acolheu as minhas dores,
               iluminou os meus caminhos e amparou as minhas necessidades, pois, mesmo apesar de

               precisar ficar um período afastada das salas de aula, logo retornei, e, se não fosse o
               projeto  PEMU  –  Espaço  Mamãe  Universitária  eu  não  poderia  ter  conquistado  o  meu

               diploma no curso de Letras Português/Inglês, tendo em vista que as minhas duas filhas
               eram fiéis companheiras de universidade, mesmo sem querer, coitadas.

                      Minha  perda  auditiva  unilateral  aumentou  significativamente,  e  junto  disso
               algumas cirurgias (rins, joelho, útero) fizeram com que meu sonho fosse adiado, porém,

               não findado.
                      Aquela  batalha  iniciada  lá  no  útero  de  minha  mãe  parece  que  não  terminava.

               Confesso, pensei em desistir.
                      Percebi  que  minha  deficiência  auditiva,  minha  situação  financeira  e  meus

               problemas de saúde não haviam sido páreos para a filha de uma guerreira. Retornei e em
               2019 finalizei o curso.

                      Temendo ficar completamente surda, fiz o curso básico de libras pela instituição
               filantrópica APADAF. Naquele ambiente entendi que poderia utilizar aquelas informações

               para compartilhar com professores e colegas de universidade, trabalho e família sobre
               educação inclusiva, assunto que começou a chamar minha atenção.

                      Ao  finalizar  o  último  ano  da  graduação,  já  em  2019,  durante  o  estágio  que
               objetivou a coleta de dados para o TCC voltado às estratégias de ensino de inglês para

               surdos,  constatei  que  alguns  docentes  não  gozavam  do  acesso  às  ferramentas
               necessárias  para  trabalhar  com  alunos  com  necessidades  especiais,  e  que  a  hora-

               atividade  era  insuficiente  ao  planejamento  docente,  então  iniciei  a  elaboração  de
               produtos/estratégias  que  pudessem  auxiliar  tanto  a  educação  inclusiva,  quanto  a

               praticidade do planejamento docente, sendo assim, foi possível concluir que tal qual a

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                       PROCESSOS E PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM: HISTÓRIAS DE VIDA E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
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