Page 134 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
P. 134
importante lutar para conseguir. É... E lá estava eu com minha coxinha deliciosa,
ah ela só deixou de comer quando chegamos em casa, ela sempre fazia isso, valorizava
muito... olha... mais um aprendizado imenso. Bom... comi a coxinha assistindo à
escolinha do professor Raimundo, que sarro. Pensei comigo, coitado desse professor o
salário é sempre “ohhh”. E foi isso que minha memória puxou, perdão para quem criou
uma expectativa maior... Desta época lembro-me das atividades de história, eternas
atividades, a professora mandava copiar páginas e mais páginas do livro, além das
atividades que deveriam ser copiadas com os enunciados. Eu fazia, sentia-me presa,
mas fazia, gostava de estar junto ao lápis e o papel. Brincava de mudar de letra, era
divertido, copiava a letra de uma das minhas amigas, fazia uma letra bem grande e bem
redonda, depois uma pequena e com poucos contornos, olha, era divertido. Ah,
também escrevia bem forte, depois bem fraquinho. Como é engraçado hoje, na figura
de professora, observar ao meu redor alguns gostos semelhantes.
Senti que a faculdade me permitiu experimentar a desalienação dos livros,
porque até então tudo que neles eu lia, era verdade absoluta. Quantas descobertas.
Nesse meio de caminho me descobri na Literatura Portuguesa, me encantei com
Saramago, também... E, claro, Aluísio Azevedo me fez flutuar e ir ao chão na leitura de
O Cortiço... Saussure, Neruda, e assim meu caminho na faculdade foi sendo marcado.
Transformando a cada dia minhas percepções. Resultado disso, chegava em casa
apenas para dormir. Manhã, tarde e noite.
Meu primeiro salário, de estagiária em escola de educação infantil, aos 16 anos,
foi inteiramente dedicado à compra do mês. Cheguei com sorriso de canto a canto, com
farinha, feijão, arroz, açúcar, eram muitas sacolas, a minha alegria estava em retribuir
à minha avó... aquilo que me dera. Rotina maçante que me colocou lentes, que me fez
enxergar muita coisa de forma diferente, bem como perceber como os resultados
surgem quando há dedicação, quando há objetivo, quando há amor naquilo que faz...
Ah! Lembrei de dois grandes sonhos: o primeiro era de trabalhar em uma editora (sim,
viver com livros), o outro, totalmente materialista, ter um carro... Contei porque eles
caminhavam juntos, eram sonhos indissociáveis, na minha cabeça. Sempre tive uma
paixão grande por carro, não essa coisa de marcas e carrões, mas a coisa do dirigir,
trocar as marchas, virar, frear, enfim... essa paixão estende-se, estranhamente, até
hoje.
132
PROCESSOS E PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM: HISTÓRIAS DE VIDA E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES