Page 136 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
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isso ainda existe? Ainda existem pessoas que não sabem escrever e ler? Bom... dizia
               ela, deve ser pouca gente e a tendência é acabar. Esse otimismo dela me fez enfrentar

               muitos desafios que me pareciam impossíveis. Eis que o trabalho foi desenvolvido,
               conheci muita gente, muitos professores lutando por essa modalidade educacional tão

               esquecida.  Encantada  fiquei.  Quantas  vidas,  quantas  histórias,  quantas  marcas  da

               rotina da vida impressas em sorrisos, em mãos, em olhares... Ao final de um dia de
               muita labuta lá estavam eles, lutando para ler e escrever. A sensação aqui, não cabe ser

               descrita,  seria  egoísmo  o  meu,  pensar  que conseguiria  transcrever  tudo  aquilo  que
               presenciei nas aulas, aqui. Portanto, que a entrelinha lhe faça perceber o peso da falta

               de palavras.
                      E assim meu caminho foi sendo traçado o caminhar, tanto no Estado quando na

               prefeitura pude me perceber como formiga diante de um grande dinossauro. Senti na

               pele,  a  cada  nova  tarde  de  aula,  a  dimensão  do  trabalho  docente.  A  dimensão  do
               trabalho em escolas carentes. A escola, na periferia, é um refúgio. Descobri que isso

               não  era  uma  hipérbole,  mas  sim  uma  realidade  dolorida.  Quantos  abraços  para
               confortar, quantas lágrimas, ali aprendi o que é o humano que vem depois do meu SER.

               Somos pequenos, mas podemos ter a força de um furacão.
                      Nunca desisti de nada e nem de ninguém. O fato do outro sentir vindo de você

               essa confiança de que ele pode e é capaz, ou seja, do outro sentir que você acredita nele,

               o torna invencível. E essa é a responsabilidade dos sonhos, manterem-se ali, sempre
               vivos para sua realização. E a responsabilidade docente? Guiar para a realização e,

               acima de tudo, acreditar.
                      Nessa trajetória percebi que meu amor transbordava por aquilo que fazia. Na

               minha cabeça rondava a palavra mudança, mudança e mudança. Cá estou. Após essa
               minha  passagem  pelo  Ensino  Público,  prestei  um  concurso  para  ser  professora  no

               Colégio Militar de Curitiba, depois da aprovação... Somente surpresas. Do dia para a
               noite virei uma docente militar, meu avô transbordou em orgulho, viu em meus trajes

               a sua realização de jovem, a avó... não preciso falar... Pois é, o caminho foi longo.
               Toda uma formação para trabalhar novamente com o amor, o amor em sua mais pura

               forma, na forma de seres humanos. Lá estava e, até hoje estou em sala de aula.






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                       PROCESSOS E PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM: HISTÓRIAS DE VIDA E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
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