Page 141 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
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No ano seguinte, perdi parte da vergonha e contava sobre os livros que estava
lendo para os colegas, lembro de contar outras histórias de Pedro Bandeira: A droga
da obediência, Pântano de sangue, Anjo da morte, e assim as aventuras dos Karas, os
cinco personagens principais das obras, faziam parte da minha vida, durante as aulas
de leitura.
No ensino médio conheci Machado de Assis e aproveitei as dicas da minha
querida professora de Língua Portuguesa e fiz um trabalho sobre a obra Helena,
resumo e apresentação da obra, ou seja, contei a obra para uma turma de colegas que
estava conhecendo naquele ano, colegas que não tinha intimidade alguma... mas tudo
deu certo! E mamãe continuava falando que eu seria professora, eu, dizia que não!!!
Desconfio que o sonho de ser professora era dela, filha de uma família muito simples,
estudou até a quarta série quando criança, completando os estudos quando adulta na
EJA, no Polo Poty Lazzarotto.
Cresci e trabalhei em diversos lugares: bancos, farmácias de manipulação,
assistência técnica, loja de joias... conheci pessoas incríveis e aprendi muito, mas não
era completamente feliz, o talento, o “meu dedo verde” ainda não havia aparecido... e
o sonho de estar na faculdade não fora realizado. Porém, depois de estudar bastante,
de dedicar muitas horas para o estudo, passei no vestibular! E assim, ingressei na
UFPR e como também havia passado em um concurso público da Prefeitura Municipal
de Curitiba, assumi uma turma de Pré II, em um CMEI. Minha mãe ficou muito feliz e
dizia com um sorriso maroto: “Letras na Federal...professora!!!!!! Educadora em um
CMEI... professora!!!!! Sim, ela tinha razão: eu sou professora!”
Mas devo confessar que o que me fez professora foram as histórias, quiçá o meu
dedo verde, contar histórias para as crianças criou um vínculo entre mim e elas,
descobri muitos segredos, ouvi muitas histórias, ensinei e aprendi muito. Minha
primeira turma, 36 crianças lindas, inteligentes e curiosas amavam ouvir histórias,
aprenderam a ouvir e contar também as suas. Nos anos seguintes outras turmas, outras
crianças e muitas histórias foram contadas para elas que esperavam pela próxima
aventura, pelas próximas atividades, pelos próximos momentos que também poderiam
ser contadores de histórias.
Não consigo imaginar um mundo sem histórias, mas sei que em alguns períodos
elas ficam esquecidas, mas creio no poder da palavra, creio no fascínio pelas narrativas
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PROCESSOS E PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM: HISTÓRIAS DE VIDA E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES