Page 139 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
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21. Eu não queria ser professora – Por Maria Helena Sachacheviski
Nasci em uma manhã fria de agosto (claro que não recordo, conto o que minha
mãe contou...) e cresci, ouvindo minha mãe contar... contava histórias, contava causos,
contava fatos verdadeiros, ela contava e sempre encantava... ela costureira, sempre
usou as agulhas e linhas para transformar tecidos em roupas, como fazia com as
palavras e ideias, transformando-as em histórias, como escreveu Matos em seu livro
“No fio das histórias, como no fio da vida, cada um tece seu tapete...” (MATOS, p.17,
2014), meu tapetinho estava sendo tecido.
Quando pequena (isso eu recordo), gostava de brincar com bonecas, com
ursinhos, com meus irmãos e primos, e continuava amando ouvir histórias. Era um
período difícil e livro era um luxo, um luxo do qual desfrutei duas vezes: a primeira
quando ganhei de mamãe dois livros, pois era a irmã mais velha: “Os cabritinhos e o
lobo” e “A bela adormecida no bosque”, meus irmãos ganharam “Os três porquinhos”
e “O pequeno polegar na corte do Rei Artur”, todos da editora Agir (um editora que
trazia na folha de guarda a imagem de um mago lendo um pergaminho no lado
esquerdo inferior, sob a lua crescente, no canto direito inferior um violão, uma
lamparina apagada e uma borboleta rosa) esses que foram lidos, relidos, contados e
recontados muitas vezes pela minha mãe e por mim, quando aprendi a ler.
O segundo momento ocorreu quando ganhei um livro usado de minha tia Maria,
irmã de minha mãe, era a obra “O menino do dedo verde”, de Maurice Druon. Eu já
conseguia ler sozinha e assim conheci Tistu, menino lindo e encantador, e Bigode, o
jardineiro e professor preferido do garoto, personagens que estão presentes em minha
vida até hoje... mas um pedacinho em especial da história me emociona de uma
maneira muito singular, a primeira aula de Tistu com o Bigode, na qual o professor
iniciou pedindo que o menino enchesse os vasos de terra e enfiasse o polegar bem no
meio, para fazer um buraco, após, o menino deveria colocar os vasos em fila para que
as sementes fossem colocadas. Mas não precisaram colocar nenhuma semente, depois
de terminar sua primeira atividade e concluir que gostava desse tipo de aula, Tistu e o
jardineiro/professor Bigode surpreenderam-se olhando as belas flores que em menos
de cinco minutos floresceram. E o mestre encontrou o talento de seu aluno.
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PROCESSOS E PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM: HISTÓRIAS DE VIDA E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES