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21.     Eu não queria ser professora – Por Maria Helena Sachacheviski

                      Nasci em uma manhã fria de agosto (claro que não recordo, conto o que minha

               mãe contou...) e cresci, ouvindo minha mãe contar... contava histórias, contava causos,
               contava fatos verdadeiros, ela contava e sempre encantava... ela costureira, sempre

               usou  as  agulhas  e  linhas  para  transformar  tecidos  em  roupas,  como  fazia  com  as
               palavras e ideias, transformando-as em histórias, como escreveu Matos em seu livro

               “No fio das histórias, como no fio da vida, cada um tece seu tapete...” (MATOS, p.17,

               2014), meu tapetinho estava sendo tecido.
                      Quando  pequena  (isso  eu  recordo),  gostava  de  brincar  com  bonecas,  com

               ursinhos, com meus irmãos e primos, e continuava amando ouvir histórias. Era um
               período difícil e livro era um luxo, um luxo do qual desfrutei duas vezes: a primeira

               quando ganhei de mamãe dois livros, pois era a irmã mais velha: “Os cabritinhos e o
               lobo” e “A bela adormecida no bosque”, meus irmãos ganharam “Os três porquinhos”

               e “O pequeno polegar na corte do Rei Artur”, todos da editora Agir (um editora que
               trazia  na  folha  de  guarda  a  imagem  de  um  mago  lendo  um  pergaminho  no  lado

               esquerdo  inferior,  sob  a  lua  crescente,  no  canto  direito  inferior  um  violão,  uma
               lamparina apagada e uma borboleta rosa) esses que foram lidos, relidos, contados e

               recontados muitas vezes pela minha mãe e por mim, quando aprendi a ler.

                      O segundo momento ocorreu quando ganhei um livro usado de minha tia Maria,
               irmã de minha mãe, era a obra “O menino do dedo verde”, de Maurice Druon. Eu já

               conseguia ler sozinha e assim conheci Tistu, menino lindo e encantador, e Bigode, o
               jardineiro e professor preferido do garoto, personagens que estão presentes em minha

               vida  até  hoje...  mas  um  pedacinho  em  especial  da  história  me  emociona  de  uma
               maneira muito singular, a primeira aula de Tistu com o Bigode, na qual o professor

               iniciou pedindo que o menino enchesse os vasos de terra e enfiasse o polegar bem no

               meio, para fazer um buraco, após, o menino deveria colocar os vasos em fila para que
               as sementes fossem colocadas. Mas não precisaram colocar nenhuma semente, depois

               de terminar sua primeira atividade e concluir que gostava desse tipo de aula, Tistu e o
               jardineiro/professor Bigode surpreenderam-se olhando as belas flores que em menos

               de cinco minutos floresceram. E o mestre encontrou o talento de seu aluno.


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                       PROCESSOS E PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM: HISTÓRIAS DE VIDA E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
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