Page 140 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
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- Ah! é uma qualidade maravilhosa – respondeu o jardineiro. – Um verdadeiro
                                      dom do céu! Você sabe: há sementes por toda parte. Não só no chão, mas nos
                                      telhados das casas, no parapeito das janelas, nas calçadas das ruas, nas cercas
                                      e nos muros. Milhares e milhares de sementes que não servem para nada.
                                      Estão ali esperando que um vento as carregue para um jardim ou para um
                                      campo.  Muitas  vezes  elas  morrem  entre  duas  pedras,  sem  ter  podido
                                      transformar-se em flor. Mas, se um polegar verde encosta numa, esteja onde
                                      estiver, a flor brota no mesmo instante. Aliás, a prova está aí, diante de você!
                                      Seu polegar encontrou na terra sementes de begônia, e olhe o resultado! Que
                                      inveja que eu tenho! Como seria bom para mim, jardineiro de profissão, um
                                      polegar verde como o seu! (DRUON, 1988, p. 39)



                      Ah!  A  descoberta  desse  talento  e  a  mudança  que  ela  proporcionou  são
               inspiradoras, e eu também queria descobrir o meu. Fui crescendo e ouvindo mamãe

               falar  que  eu  seria  professora...  eu  dizia  que  não!!!  Mas  as  minhas  brincadeiras
               preferidas,  meu  encantamento  pelos  livros  e  pelas  histórias,  indicavam  que  essa

               poderia ser a minha profissão.

                      Na  escola  passava  muito  tempo  na  biblioteca,  espaço  simples,  com  poucos
               livros,  a  maioria  estava  remendada  com  fita  adesiva,  mas  o  principal  estava

               preservado: as histórias! E eu lia, e alimentava um desejo de compartilhá-las, então, à
               noite, enquanto secava a louça do jantar, contava as histórias para minha mãe, que

               ensaboava os pratos e deixava os copos limpinhos e ao final, também contava uma
               história, pois esse momento sempre era o mais esperado por mim.

                      Sempre gostei de estudar, de ler, de escrever, mas era muito tímida (continuo

               tímida, embora consiga disfarçar!), não falava em sala de aula e tinha poucos amigos,
               por isso fiquei surpresa quando minha professora de Português da sétima série (hoje

               seria do oitavo ano) falou palavras lindas sobre as minhas redações e sobre os meus
               resumos dos livros lidos e então, em uma manhã ela pediu para que eu contasse para a

               turma sobre o livro que estava lendo, eu fiquei nervosa, mas comecei a falar baixinho
               e nem percebi quando fiquei em pé e contei  a obra “A marca de uma lágrima”, de Pedro

               Bandeira com emoção e muitos detalhes... Contei até o momento em que ela pediu para
               eu parar, pois quem quisesse descobrir o final deveria emprestá-lo, o resultado foi: uma

               lista de espera na biblioteca para o empréstimo da obra e no momento do recreio não
               ficava  mais  sozinha,  agora  tinha  alguns  amigos  que  gostavam  de  conversar  sobre

               histórias...





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