Page 71 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
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     11.    Relatos de um acadêmico de letras: declarações de um futuro profissional
               docente de língua portuguesa - Por Welinton dos Reis Martins
                      Minas Gerais, terra de Drummond, de Guimarães Rosa, de Adélia Prado e, claro,
               minha também. Na primavera de 1988, tive a honra de tornar-me filho desta terra, mais
               precisamente,  nasci  no  interior  das  Minas  Gerais.  Sou  oriundo  de  família  humilde,
               pacata...  minha  infância  não  foi  cercada  de  grandes  novidades,  cresci  envolto  por
               travessuras, como a maioria das crianças. Meu primeiro contato com a escola ocorreu
               aos  6  anos  de  idade.  O  primeiro  dia  foi  um  pouco  desesperador,  mas  tudo  se
               encaminhou muito bem, principalmente quando eu descobri que havia aprendido a ler,
               ainda no primeiro trimestre escolar.
                      Acredito ter sido aquela a melhor sensação já vivida por mim, lembro-me de ter
               levado à escola uma revista que eu encontrara em algum lugar, queria tirar a prova dos
               nove, e para fazê-lo, precisava ler algo para a professora, e o fiz. Naquele momento ficou
               confirmado: eu me tornara um leitor. Leitor mesmo, no sentido completo da palavra, pois
               nunca mais parei de ler. Eu lia placas, outdoors, panfletos, jornais, revistas, papéis de bala
               e qualquer coisa que tivesse letras, e quando não as tinham, eu mesmo as colocava para
               ler em seguida.
                      Do pré-escolar em diante a minha vida resumiu-se em leitura, eu lia para estudar,
               e quando acabava de estudar, lia pelo lazer. Todavia, uma biblioteca do interior não tem
               muitos livros, por isso, todas as obras que faziam jus ao meu gosto já haviam sido lidas
               por mim até a oitava série. Além da biblioteca escolar, havia na cidade uma pequena
               biblioteca municipal que comecei a frequentar também e, às vezes, levava duas obras
               pra  casa,  devolvia  no  dia  seguinte  e  escolhia  as  próximas  páginas  que  seriam
               decodificadas nas horas seguintes.
                      Meu repertório de leitura era variado. Monteiro Lobato, Maria José Dupré, Ágatha
               Christie,  Condessa  de  Ségur,  Ganymédes  José,  Mário  Ribeiro  da  Cruz,  Domingos
               Pellegrini,  Lúcia  Machado,e  toda  sorte  de  autores  e  histórias.  Na  “hora  do  recreio”,
               enquanto uns brincavam, corriam, brigavam, eu ia para a biblioteca trocar o livro.
                      Cabe aqui um adendo. Ainda no ensino fundamental, conheci as obras de João
               Carlos Marinho. Exímio escritor, escreveu grandes histórias protagonizadas pela turma
               do Gordo, também conhecido como bolachão. Todas as obras desse autor que, à época,
               constavam na biblioteca, eu li desesperadamente e com gosto. O gênio do crime, Caneco
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                       PROCESSOS E PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM: HISTÓRIAS DE VIDA E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES





