Page 91 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
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Não me lembro quantos livros eu li nessa época, mas confesso que li bastante —
               embora já tivesse contato com a leitura — a fase da 8.ª série foi ponto de partida para a

               minha imersão no universo literário. Desde muito cedo tive contato com a leitura, lembro
               que, ao andar nas ruas de Salvador, com o meu pai, ficava lendo os letreiros de ônibus,

               anotava as marcas, as linhas, guardo também a lembrança de um dado momento que
               andava na Av. Sete de Setembro, e, ao ler o letreiro, tropecei e bati a cabeça no poste

               distraído porque estava admirando os nomes das linhas dos coletivos. Meus pais sempre
               foram meus incentivadores, e, até hoje, embora reclamem porque deixo de dormir para

               estudar, sou grato por na infância terem investido em minha jornada escolar.
                      Na  escrita,  sou  suspeito  de  falar,  desde  a  época  da  7ª  série,  escrever  é  uma

               experiência  divertida,  principalmente  porque  a  usava  para  transpor  as  minhas
               “releituras” de personagens, finais alternativos ou criar fantasias a partir do que consumia

               enquanto produto cultural. Lembro-me de ter participado, inclusive, de um concurso de
               redação da Prefeitura de Dias Dávila com premiação para os primeiros colocados. Não

               fui contemplado com nenhum prêmio, mas ganhei a experiência de ser um dos únicos
               alunos a representar a instituição no concurso da cidade.

                      Em meu ensino médio, morando novamente em Salvador, pude manter o meu
               hábito de leitura no Colégio. Estudei no Colégio Estadual Landulfo Alves, no Bairro de São

               Joaquim, próximo à feira. Recordo-me com gratidão dessa época, pois o CESLA foi uma
               escola estadual que promovia projetos, tinha uma biblioteca acessível aos alunos, e aos

               meus professores queridos  de  língua portuguesa Thereza Oliveira e Dilma Figueiredo,
               professora  Mônica  Carvalho  de  química,  Rita  Monteiro  de  inglês,  Orlando  Souza  de

               Biologia, Antonio Ferreira (Ferreirinha para os alunos) e Pedro Paulo  (in memória) de
               filosofia,  professores  que  lembro  com  carinho  como  minhas  referências  de  “ser”

               professor, e me orgulho ao dizer que vim da escola pública.
                       Não concluí o ensino médio vocacionado a fazer licenciatura, lembro-me que

               tive muitas dúvidas, e várias delas, razão pela qual citei a "escrevivência” de Conceição
               Evaristo,  surgiram  pelo  “estereótipo”  negativo  ventilado  na  sociedade  sobre  “ser”

               professor. Ouvia de muitos que não valia a pena, não compensa, poucos concursos,
               remuneração  baixa,  sem  falar  em  professores  que  desmotivam  os  alunos  que  se

               interessam  pela  profissão.  Recordo-me  de  uma  aula  que  assisti  em  cursinho  pré-
               vestibular,  em  que  o  professor  ovacionava  as  profissões  culturalmente  prestigiadas

               (direito,  psicologia,  medicina...)  e  quando  alguém  mencionava  alguma  licenciatura,  a

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