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15.    Escrevivência pedagógica: memórias de um professor que ama o que faz –
               por José Nelson Souza Santos


                      Zé Nelson, Recorte, Zé e Profinho — este último marcou — são algumas das formas
               pelas quais sou chamado pelos meus alunos, ou como costumo chamá-los: as minhas

               crianças.  Começo  destacando  os  apelidos,  pois,  carregam  a  minha  identidade,
               demonstram  o  vínculo  afetivo-pedagógico  que  construí  ao  longo  da  minha  contínua

               jornada como docente.
                      Araújo (2012), ao analisar a "escrevivência" de Conceição Evaristo, elucida como

               a  experiência  da  autora  imerge  em  seus  contos,  tornando-se  voz  de  muitas  vozes
               ecoadas  e,  muitas  vezes,  subalternizadas  pela  sociedade.  Permito-me  usar  o  termo

               “escrevivência”  da  Evaristo  (2017),  pois  acredito  na  potência  que  nossas  narrativas
               experienciais na educação são, além de inspiração para os que ainda desejam, embora

               poucos,  também  motiva  aqueles  que,  por  diversas  razões,  desistiram  da  profissão
               docente.

                      Meu  desejo  pela  educação  começou  lá  no  fundamental  2  (anos  finais),
               especificamente  na  8ª  série.  Lembro-me  que  foi  auge  de  apresentação  de  projetos,

               trabalhos  escolares,  e,  nesse  tempo,  inspirava-se  nos  professores  que  tivera  nesse
               período.  Quando  os  via  em  sala,  falando,  explicando,  imaginava  como  seria  eu  se

               estivesse ali, desde a entrada na sala até as saídas, — o momento dos carimbos — , o
               famoso  carimbo  do  professor(a),  que  incrível.  Era  o  auge  observar  o  meu  caderno

               marcado de carimbadas, inclusive, quando tinha oportunidade ficava batendo nas folhas,
               hoje passo por isso, e fico pensando:  aluno é aluno independente da época.

                      Esse período foi o ápice do meu encontro com as literaturas, pois estava morando
               em Dias Dávila, e os livros tornaram-se formas de me conectar com o mundo, visto que

               no local onde residia, havia poucas crianças que pudessem brincar e/ou conversar. Li
               contos, romances e diversas literaturas que, embora não lembre de forma detalhada, são

               ecos em minhas memórias de leitura e escrita que marcaram a minha vida. A exemplo
               de  “Ubirajara  de  José  Alencar,  O  menino  Maluquinho  de  Ziraldo  e  as  Reinações  de

               Narizinho de Monteiro Lobato, recordo-me com doçura dessas literaturas, não só pela
               obra em si, mas pela imagem visual que pude recriar quando as li. Hoje, por exemplo, ao

               ler  em  sala  trechos  de  contos  e  romances,  costumo  instigar  os  meus  alunos  a
               expressarem como eles visualizam e “degustam” da leitura, até mesmo para evidenciar

               o seu papel singular em nossas percepções da realidade.
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