Page 169 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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vestidos. Não admito franco-atiradores no negócio, pois só nos trazem má fama. Tom, vamos pôr
esse projeto em ação já. O resto entrará na linha, assim que você mandar dizer que o jogo está
liberado.
— Existem alguns rapazes muito duros no Harlem. Tomaram o gostinho do dinheiro graúdo.
Não quererão voltar a ser novamente pequenos agentes ou sub-banqueiros — retrucou Hagen.
Sonny deu de ombros.
— Ë só você dar os nomes a Clemenza. A função dele é pô-los nos eixos.
— Isso não é problema — disse Clemenza para Hagen.
Então, Tessio apresentou a questão mais importante.
— Assim que começarmos a funcionar, as cinco Famílias começarão seus ataques.
Procurarão atingir nossos banqueiros no Harlem e nossos bookmakers na zona Leste. É provável
que tentem atrapalhar as coisas no setor de roupas feitas, que controlamos. Essa guerra vai custar
um bocado de dinheiro.
— É possível que nem tentem — retrucou Sonny. —, Eles sabem que os atacaremos em
represália. Tenho meus sondadores de paz lá fora, e talvez possamos ajeitar tudo pagando uma
indenização pela morte do rapaz da Família Tattaglia.
— Eles estão recebendo friamente tais negociações — atalhou Hagen. — Perderam um
bocado de grana nos últimos meses e nos culpam por isso, com justiça. Penso que o que querem
de nós é que concordemos em entrar no negócio de entorpecentes, para usar a influência da
Família politicamente. Em outras palavras, tratar do caso Sollozzo, com exclusão de Sollozzo. Mas
não entabularão tal negociação enquanto não nos tiverem atingido com uma espécie de ataque.
Então, depois que nos tiverem amolecido, pensam que ouviremos sua proposta sobre
entorpecentes.
— Nada de trato sobre entorpecentes — respondeu Sonny prontamente. — Don Corleone
disse “não” e será “não” até ele mudar de opinião.
— Então — falou Hagen enérgico — temos diante de nós um problema tático. Nosso
dinheiro está lá fora em campo aberto. Jogo e política. Podemos ser atacados. A Família
Tattaglia controla a prostituição e coisas semelhantes, além dos sindicatos portuários. Diabo,
como vamos atacá-los? As outras Famílias também estão por dentro do negócio de jogo. A
maioria delas está metida em negócios de construção, agiotagem, controle dos sindicatos,
obtenção de contratos com o governo. Conseguem um bocado por meio de ameaças e outros
recursos contra gente humilde. O dinheiro delas não está na rua. O cabaré dos Tattaglia é muito
famoso para se atacar, causaria uma péssima impressão. E, com Don Corleone ainda fora de
ação, a influência política deles iguala com a nossa. Assim, temos aqui um verdadeiro problema.
— O problema é meu — replicou Sonny. — Eu encontrarei a resposta. Mantenha a
negociação em andamento e continue firmemente com as outras coisas. Vamos voltar ao
negócio para ver o que acontece. Depois, saberemos como agir. Clemenza e Tessio têm
bastantes soldados, podemos enfrentar as cinco Famílias bala por bala, se isso é o que elas
querem. Iremos então para os colchões.
Não houve problemas para expulsar os banqueiros negros franco-atiradores do negócio. A
polícia foi informada e arrasou com tudo, sem grande esforço. Nessa época, não era possível que
um preto desse “bola” a um polícia de posição elevada ou a um funcionário político, para manter
tal negócio em funcionamento. Isso se devia mais ao preconceito e à desconfiança racial do que
a outra coisa qualquer. Mas o Harlem sempre fora considerado um problema secundário, de
forma que se esperava uma fácil solução.
As cinco Famílias atacaram numa direção inesperada. Dois poderosos funcionários dos
sindicatos de roupas feitas foram assassinados, funcionários que eram membros da Família
Corleone. Depois, os agiotas da Família Corleone foram expulsos das docas, como também os
bookmakers. O pessoal do sindicato dos estivadores se passou para as cinco Famílias. Os
bookmakers da Família Corleone em toda a cidade foram ameaçados, a fim de se convencerem
a mudar de lado. O maior banqueiro do Harlem, um velho amigo e aliado da Família Corleone,