Page 173 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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suficiente apenas para a passagem de ambulâncias e carros fúnebres. Bonasera abriu o portão e
  deixou-o  aberto.  Depois  andou  para  os  fundos  do  edifício  e  entrou  nele  pela  larga  porta  ali
  existente. Quando fazia isso, viu as pessoas da família enlutada já entrando pela porta da frente
  da sala do velório para prestar sua homenagem ao defunto que ali se encontrava.
    Há muitos anos, quando Bonasera comprara o negócio de um agente funerário que pretendia
  se aposentar, havia uma varanda com cerca de dez degraus que as pessoas tinham de subir antes
  de entrar na sala do velório. Isso apresentava um problema. Os velhos e aleijados que vinham
  prestar  homenagens  aos  mortos  achavam  quase  impossível  subir;  assim,  o  antigo  agente
  funerário usava o elevador de carga para essa gente, uma pequena plataforma metálica, que se
  erguia  do  chão  ao  lado  do  edifício,  O  elevador  era  para  esquifes  e  cadáveres  e  descia  até  o
  subterrâneo, subindo em seguida até a sala do velório. Desse modo, as pessoas que usassem o
  elevador se veriam subindo ao lado do esquife, enquanto outras eram obrigadas a afastar para o
  lado  suas  cadeiras  pretas,  a  fim  de  deixar  o  elevador  subir  pelo  alçapão.  Para  descer  era  o
  mesmo problema.
    Amerigo Bonasera achara essa solução indecorosa e mesquinha. Assim, remodelou a frente
  do edifício, pôs abaixo a varanda e construiu um passeio ligeiramente inclinado em seu lugar.
  Mas naturalmente o elevador ainda era usado para esquifes e cadáveres.
    Nos fundos do edifício, isolados da sala do velório e salas de recepção por uma maciça porta
  à prova de som,  ficavam  o  escritório  da  empresa,  a  sala  de  embalsamamento,  o  depósito  de
  esquifes e um armário, cuidadosamente trancado, contendo produtos químicos e as respeitáveis
  ferramentas do ofício. Bonasera foi para o escritório, sentou-se na sua escrivaninha e acendeu
  um  Camel,  uma  das  poucas  vezes  em  que  fumou  nesse  edifício.  Pôs-se  a  esperar  por  Don
  Corleone.
    Esperava com o sentimento de desespero máximo. Ele não tinha dúvida a respeito de que
  serviço seria convidado a executar. Durante o último ano, a Família Corleone vivia empenhada
  numa guerra contra as cinco grandes Famílias da Máfia de Nova York e a carnificina enchera os
  jornais. Muitos homens de ambos os lados haviam sido assassinados. Agora a Família Corleone
  tinha matado alguém tão importante que desejava esconder seu corpo, fazê-lo desaparecer, e
  que  melhor  processo  poderia  haver  do  que  fazê-lo  ser  enterrado  oficialmente  por  um  agente
  funerário registrado? E Amerigo Bonasera não tinha ilusões a respeito do ato que deveria realizar.
  Seria cúmplice de um assassinato. Se a coisa fosse descoberta, ele passaria anos na prisão. A sua
  filha e mulher ficariam desgraçadas, seu bom nome, o respeitado nome de Amerigo Bonasera,
  seria arrastado pela lama sangrenta da guerra da Máfia.
    Ele se acalmou um pouco fumando outro cigarro. E então pensou numa coisa ainda mais
  terrificante  Quando  as  outras  Famílias  descobrissem  que  ele  havia  ajudado  os  Corleone  o
  tratariam como inimigo. Elas o matariam E agora ele amaldiçoava o dia em que sua mulher e a
  de Don Corleone se tornaram amigas. Amaldiçoou também a sua filha, a América e seu próprio
  êxito.  E  então  o  seu  otimismo  voltou.  Tudo  poderia  sair  bem.  Don  Corleone  era  um  homem
  esperto. Certamente tudo fora arranjado para manter o segredo. Ele tinha apenas de dominar os
  nervos. Pois, naturalmente, a única coisa mais fatal do que qualquer outra era cair no desagrado
  de Don Corleone.
    Bonasera  ouviu  pneumáticos  rolarem  no  cascalho.  O  seu  ouvido  prático  lhe  dizia  que  um
  carro estava vindo pela estreita pista de rolamento, estacionando no pátio de trás. Abriu a porta
  dos fundos para deixá-los entrar. O enorme homem gordo, Clemenza, entrou, seguido de dois
  sujeitos  jovens  muito  mal-encarados.  Deram  uma  busca  nas  salas  sem  dizer  uma  palavra  a
  Bonasera, depois Clemenza saiu. Os sujeitos ficaram com o agente funerário.
    Alguns momentos depois, Bonasera reconheceu o ruído de uma ambulância pesada vindo
  pela pista de rolamento. Depois Clemenza apareceu na porta seguido de dois homens carregando
  uma  maca.  E  os  piores  temores  de  Amerigo  Bonasera  e  concretizaram.  Na  maca  havia  um
  cadáver enrolado num cobertor cinzento, com os pés nus amarelos saindo pela extremidade.
    Clemenza  fez  sinal  para  que  os  carregadores  da  maca  fossem  para  a  sala  de
  embalsamamento.  E  depois,  da  escuridão  do  pátio,  surgiu  outro  homem  que  entrou  na  sala
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