Page 175 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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CAPÍTULO 19
TALVEZ FOSSE O IMPASSE que fizesse Sonny Corleone empreender a ação sangrenta do
atrito que terminou com a sua própria morte. Talvez fosse sua violenta natureza que se soltou por
completo. Em todo caso, naquela primavera e verão, ele realizou ataques estúpidos aos auxiliares
dos inimigos. Gigolôs da Família Tattaglia foram mortalmente baleados no Harlem, terroristas
das docas foram massacrados. Funcionários dos sindicatos que deviam fidelidade às cinco
Famílias foram advertidos para que se mantivessem neutros, e quando os bookmakers e agiotas
de Corleone estavam ainda impossibilitados de trabalhar nas docas, Sonny mandou Clemenza e
seu regime fazer uma enorme devastação ao longo do cais.
Essa carnificina não tinha sentido porque não podia alterar o resultado da guerra. Sonny era
um tático de valor e conseguiu vitórias brilhantes. Mas o que se precisava era do gênio estratégico
de Don Corleone. Toda a coisa degenerou numa tal luta mortal de guerrilhas que os dois lados
estavam perdendo um bocado de receita e de vidas sem qualquer objetivo. A Família Corleone
foi finalmente obrigada a fechar algumas de suas mais rendosas bancas de apostas, inclusive a
que fora dada ao genro Carlo Rizzi para ganhar a vida. Carlo passou a beber e a andar com
coristas e a dar duro na sua mulher, Connie. Desde que apanhara de Sonny, ele não mais se
atrevera a bater na mulher, mas não dormira mais com ela. Connie atirou-se a seus pés, ele a
rejeitara com pontapés, como pensava ele, como um romano, com um esquisito prazer patrício.
Ele zombara dela, dizendo:
— Vá chamar seu irmão para dizer a ele que eu não trepo mais com você; talvez ele me
bata tanto que o cacete fique duro.
Mas ele tinha um medo mortal de Sonny, embora se tratassem reciprocamente com fria
cortesia. Carlo tinha a impressão de que Sonny o mataria, por que Sonny era um homem que
podia, com a naturalidade de um animal, matar outro homem, enquanto ele próprio teria de
reunir toda a sua coragem, toda a sua vontade para cometer um assassinato. Jamais ocorrera a
Carlo que devido a isso ele era um homem melhor do que Sonny Corleone, se se pudessem usar
tais palavras; ele invejava a selvageria de Sonny, que já se tornara lendária.
Tom Hagen, como consigliori, não aprovava a tática de Sonny e contudo decidira não
protestar junto a Don Corleone simplesmente porque a tática, até certo ponto, produzia bom
resultado. As cinco Famílias pareciam estar acovardadas, finalmente, à medida que o atrito
prosseguia, e seus contragolpes foram enfraquecendo e afinal cessaram por completo. Hagen a
princípio desconfiou dessa aparente pacificação do inimigo, mas Sonny estava jubiloso.
— Vou atacar rijamente — disse ele a Hagen — e então esses salafrários virão implorar um
acordo.
Sonny se preocupava com outras coisas. A sua mulher estava dando duro nele porque ouvira
o boato de que Lucy Mancini enfeitiçara seu marido. E embora ela zombasse publicamente do
“equipamento” e da técnica de Sonny, ele se mantivera afastado da esposa muito tempo e ela
sentia falta dele na cama, tornando assim a vida dele miserável com suas amolações.
Além disso, Sonny estava sob a enorme tensão de ser um homem marcado. Tinha que ser
extraordinariamente cauteloso em todos os seus movimentos e sabia que as suas visitas a Lucy
Mancini haviam sido farejadas pelo inimigo. Mas aí ele tomava precauções rigorosas, pois esse
era o lugar tradicionalmente vulnerável, Estava seguro ali. Embora Lucy não tivesse a mais leve
suspeita, era vigiada 24 horas por dia por homens do regime de Santino, e quando vagava um
apartamento no andar dela, era imediatamente alugado por um dos homens de mais confiança
do regime.
Don Corleone se estava restabelecendo e logo se encontraria em condições de reassumir o
comando. Aí, então, a sorte da batalha deveria virar a favor da Família Corleone. Disso Sonny
tinha certeza. Entrementes, ele guarda ria o império da Família, ganharia o respeito do pai, e
desde que a posição não era hereditária até um ponto absoluto, consolidaria sua pretensão de