Page 179 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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recusou a reagir naquele dia em que Sonny o agrediu, isto evitou que ele o matasse, a submissão
  completa desarmava a sua violência. Quando menino, ele fora realmente muito sensível. O fato
  de se ter tornado assassino depois de adulto era simplesmente seu destino.
    Mas ele resolveria a coisa de uma vez para sempre, pensava Sonny, enquanto dirigia o Buick
  para a via elevada que o levaria, por cima da água, de Long Beach até as avenidas largas de
  Jones Beach. Ele sempre usava esse caminho quando ia a Nova York. Havia menos tráfego.
    Resolveu que mandaria Connie para casa com os guarda-costas e depois conversaria com o
  cunhado. O que aconteceria depois disso ele não sabia. Se Carlo tivesse realmente machucado
  Connie,  ele  aleijaria  o  salafrário,  Mas  o  vento  que  soprava  sobre  a  via  elevada,  a  frescura
  salgada do ar, esfriou a sua raiva. Ele baixou todo o vidro da janela.
    Sonny tomara a pista elevada de Jones Beach, como sempre, porque geralmente era deserta
  a essa hora da noite, nessa época do ano, e ele podia correr desenfreadamente até chegar às
  avenidas largas do outro lado. E mesmo ali o tráfego seria pequeno. O alívio de dirigir muito
  depressa dissiparia o que ele sabia ser uma tensão perigosa. Ele já deixara o carro dos guarda-
  costas bem para trás.
    A via elevada era mal-iluminada, não havia um só carro. Muito à frente, Sonny via o cone
  branco  da  cabina  de  pedágio.  Havia  outras  cabinas  de  pedágio,  além  daquela,  mas  só
  funcionavam durante o dia, quando havia mais tráfego. Sonny começou a frear o Buick e ao
  mesmo  tempo  a  procurar  nos  bolsos  dinheiro  miúdo.  Não  tinha  nenhum.  Puxou  a  carteira  de
  notas, abriu-a com uma só mão e tirou uma cédula com os dedos. Chegou à arcada de luz e viu,
  para sua ingênua surpresa, um carro na passagem da cabina de pedágio obstruindo-a, sendo que
  o motorista evidentemente estava se informando sobre alguma coisa com o cobrador do pedágio.
  Sonny  tocou  a  buzina  e  o  outro  carro  obedientemente  afastou-se  para  deixar  o  seu  carro
  atravessar a passagem.
    Sonny entregou ao cobrador do pedágio a nota de um dólar e esperou o troco. Ele agora tinha
  pressa  para  fechar  a  janela.  O  ar  do  Atlântico  esfriara  o  carro  todo.  Mas  o  cobrador  estava
  demorando a dar o troco; o estúpido na verdade deixara-o cair no chão. A cabeça e o corpo do
  homem desapareceram quando ele se abaixou em sua cabina para apanhar o dinheiro.
    Naquele  momento,  Sonny  percebeu  que  o  outro  carro  não  continuara  a  andar,  tendo
  estacionado poucos metros  adiante,  ainda  obstruindo-lhe  o  caminho.  Naquele  exato  momento,
  pelo visor lateral notou outro homem na escura cabina de pedágio à sua direita. Mas ele não teve
  tempo  de  pensar  nisso  porque  dois  homens  saíram  do  carro  estacionado  na  frente  e  vieram
  andando na direção dele. O cobrador do pedágio ainda não aparecera. E então, numa fração de
  segundo, antes que qualquer coisa realmente acontecesse, Santino Corleone soube que sua hora
  havia chegado. E naquele momento a sua mente estava lúcida, destituída de qualquer violência,
  como se o medo oculto, finalmente real e presente, o tivesse purificado.
    Mesmo assim, o seu corpo enorme, num reflexo de autodefesa, atirou-se pesadamente na
  porta do Buick, arrebentando o trinco. O homem da cabina escura abriu fogo e os tiros atingiram
  Sonny Corleone na cabeça e no pescoço quando a sua figura maciça se projetava para fora do
  carro. Os dois homens que estavam na frente seguravam agora suas armas, o homem da cabina
  escura parou de atirar e o corpo de Sonny se esparramou no asfalto com parte das pernas ainda
  dentro do carro. Cada um dos homens atirou no corpo de Sonny e depois chutaram-lhe o rosto
  para desfigurar-lhe ainda mais as feições.
    Segundos depois, todos os quatro homens, os três que atiraram em Sonny e o falso cobrador
  de  pedágio,  estavam  em  seu  automóvel  correndo  a  toda  a  velocidade  na  direção  da
  Meadowbrook Avenue do outro lado de Jones Beach. Sua perseguição estava obstruída pelo carro
  com  o  corpo  de  Sonny  na  passagem  da  cabina  de  pedágio,  mas  quando  os  guarda-costas  de
  Sonny chegaram, alguns minutos depois, e encontraram o corpo ali, não tiveram a intenção de
  perseguir ninguém. Dera a volta com o carro em torno de um enorme arco e regressaram a
  Long Beach. No primeiro telefone público fora da via elevada, um deles saltou e chamou Tom
  Hagen. Ele foi muito lacônico e rápido.
    — Sonny está morto, eles o apanharam na cabina de pedágio de Jones Beach.
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