Page 177 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Connie entrou no quarto. Parou no vão da porta como se não pudesse aproximar-se da cama
  sem ser convidada.
    — A comida está na mesa — anunciou ela.
    — Ainda não estou com fome — respondeu ele, continuando a ler o programa das corridas.
    — Está na mesa! — repetiu Connie teimosamente.
    — Enfie na bunda! — retrucou Carlo.
    Carlo bebeu o resto do uísque do copo, e virou a garrafa para enchê-lo novamente. Não deu
  mais atenção à mulher.
    Connie foi para a cozinha, apanhou os pratos cheios de comida e atirou-os na pia, quebrando-
  os  ruidosamente.  O  barulho  fez  Carlo  vir  precipitadamente  do  quarto.  Olhou  para  a  vitela
  refogada com pimentão espalhada por todas as paredes da cozinha e a sua reação foi violenta.
    —  Sua  imunda  carcamana  mimada!  —  gritou  ele  com  rancor.  —  Limpe  tudo  isto  agora
  mesmo ou eu a encho de pontapés!
    — Dane-se, que eu não limpo nada! — respondeu Connie.
    Ela estava com as mãos em forma de garras prontas para arranhar-lhe violentamente o peito
  nu.
    Carlo voltou para o quarto e quando saiu de lá segurava na mão seu cinto dobrado.
    — Limpe tudo isto — gritou ele, e a ameaça em sua voz não deixava qualquer dúvida.
    Ele estava ali parado sem se mover e brandiu o cinto nas ancas avantajadas da mulher; a
  pancada ardeu, mas não doeu realmente. Connie recuou até os armários da cozinha, meteu a
  mão numa das gavetas e puxou uma faca de pão comprida. Segurou-a em posição de ataque.
    Carlo deu uma gargalhada.
    — Até as mulheres da Família Corleone são assassinas — disse ele.
    Pôs o cinto na mesa da cozinha e avançou para ela. Connie tentou um mergulho repentino,
  mas o seu pesado corpo em estado de gravidez tornou-a morosa e Carlo conseguiu desviar-se do
  ataque desfechado por ela à sua virilha com decisão implacável. Ele a desarmou facilmente,
  depois começou a esbofetear-lhe o rosto com golpes lentos sem muita força para não romper-lhe
  a pele. Atingia-a seguidamente, enquanto ela recuava em volta da mesa da cozinha, procurando
  escapar dele, e ele a perseguia até o quarto. Connie tentou morder-lhe a mão e Carlo agarrou-a
  pelos cabelos para levantar-lhe a cabeça. Ele bateu-lhe no rosto até que ela começou a chorar
  como uma criancinha, de dor e humilhação. Depois atirou-se desdenhosamente na cama. Bebeu
  diretamente  da  garrafa  de  uísque  que  ainda  estava  em  cima  da  mesinha.  Ele  parecia  muito
  bêbedo  agora,  seus  olhos  azuis  apresentavam  um  brilho  louco  e  finalmente  Connie  ficou
  realmente com medo.
    Carlo escarrapachou as pernas e continuou a beber da garrafa. Estendeu a mão para baixo e
  agarrou um pedaço da pesada coxa dela, inchada devido à gravidez. Deu-lhe um aperto forte,
  machucando-a e fazendo-a pedir misericórdia.
    — Você está gorda como uma porca — disse com repugnância e saiu do quarto.
    Completamente apavorada e acovardada, ela jazia na cama, não se atrevendo a ir ver o que
  o marido estava fazendo na sala. Finalmente levantou-se e foi até a porta para dar uma espiada
  na sala de estar. Carlo tinha aberto outra garrafa de uísque e bebia esparramado no sofá. Daí a
  pouco ele estaria tão embriagado que cairia num sono profundo e ela poderia ir sorrateiramente
  até a cozinha e telefonar para a família em Long Beach. Pediria à mãe que mandasse alguém ali
  apanhá-la. Ela esperava que Sonny não atendesse o telefone, sabia que seria melhor falar com
  Tom Hagen ou com a mãe.
    Eram quase dez horas da noite, quando o telefone da cozinha da casa de Don Corleone tocou.
  Foi atendido por um dos guarda-costas, que respeitosamente passou o telefone para a mãe de
  Connie. Mas a Sra. Corleone não conseguia compreender o que a filha estava dizendo, a moça
  estava histérica e, além disso, falava muito baixinho para que o marido que se achava na sala de
  estar ao lado não a ouvisse. O seu rosto havia inchado em conseqüência das bofetadas, e os seus
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