Page 176 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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herdeiro do Império Corleone.
Mas os inimigos estavam fazendo seus planos Também haviam analisado a situação e
chegado à conclusão de que o único meio de evitar a derrota completa era matar Sonny
Corleone. Compreendiam a situação melhor agora e sentiam que era possível negociar com Don
Corleone, conhecido por sua lógica sensatez. Passaram a odiar Sonny por sua sede de sangue,
que eles consideravam bárbara. Também por sua falta de bom senso de negócio. Ninguém
queria que voltassem os velhos tempos com todo o seu tumulto e complicação.
Uma noite, Connie Corleone recebeu um telefonema anônimo, uma voz de moça,
perguntando por Carlo.
— Quem é você? — perguntou Connie.
A moça do outro lado da linha riu zombeteiramente e respondeu:
— Sou uma amiga de Carlo. Eu queria dizer a ele que não posso vê-lo esta noite. Tenho de
sair da cidade.
— Sua cadela ordinária! — retrucou Connie Corleone. — Sua cadela vagabunda, ordinária!
— gritou Connie outra vez no telefone.
Houve um estalo do outro lado da linha.
Carlo fora às corridas de cavalo naquela tarde e quando voltou para casa já de noite estava
aborrecido por ter perdido e achava-se meio embriagado, pois levava sempre consigo uma
garrafa de bebida. Assim que ele atravessou a porta, Connie começou a xingá-lo aos berros. Ele
não tomou conhecimento dela e foi tomar um banho de chuveiro. Quando saiu do banheiro,
enxugou-se na frente dela e começou a se enfarpelar para sair novamente.
Connie estava ali postada com as mãos nas cadeiras, o rosto pontudo e branco de raiva.
— Você não vai a lugar algum — disse ela. — Sua amiga telefonou e disse que não pode
encontrar-se com você esta noite. Seu salafrário nojento, você tem coragem de dar às suas
prostitutas o número de meu telefone. Eu o mato, seu sacana!
Ela atirou-se em cima dele, dando-lhe pontapés e arranhando-o.
Ele conseguiu afastá-la com um antebraço musculoso.
— Você está maluca! — retrucou ele friamente.
Mas Connie percebeu que ele estava preocupado, como se soubesse que a garota doida com
quem ele estava trepando fizesse realmente aquela maluquice.
— Ela estava brincando, alguma doideira — acrescentou Carlo.
Connie mergulhou por dentro do seu braço e arranhou furiosamente o rosto do marido.
Trouxe um pedacinho de sua bochecha em suas unhas. Com surpreendente paciência, Carlo a
afastou. Ela percebeu que ele estava tomando cuidado por causa de sua gravidez e isso deu-lhe
coragem de alimentar a sua própria raiva. Ela também estava excitada. Daí a pouco, ela não
poderia fazer mais nada, o médico dissera que nada de sexo durante os últimos meses e ela
queria agora, antes que começassem os dois últimos meses. Contudo, seu desejo de ferir
fisicamente Carlo era muito real também. Ela o seguiu até o quarto.
Connie viu que ele estava apavorado e isso a encheu de prazer desdenhoso.
— Você vai ficar em casa — disse ela. — Você não vai sair.
— Está bem, está bem — respondeu ele.
Carlo já tinha tirado a roupa e ficara apenas de shorts. Gostava de andar em casa assim,
orgulhava-se de seu corpo em forma de V, de sua pele dourada. Connie olhou para ele
ansiosamente. Ele procurou rir.
— Você pelo menos vai-me dar alguma coisa para comer?
Isso a amoleceu, o fato de Carlo lembrar-lhe o cumprimento de seus deveres, um deles pelo
menos, já era alguma coisa. Connie era uma boa cozinheira, aprendera isso com a mãe. Fez um
refogado de vitela com pimentão, preparando uma salada mista enquanto a panela fervia.
Entrementes, Carlo se esticara na cama para ler o programa das corridas do dia seguinte. Tinha
um copo cheio de uísque ao lado do qual bebia um pouco, de vez em quando.