Page 181 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 181
uma voz não muito clara em conseqüência do uísque e do sono. Hagen falou vigorosamente para
alertá-lo.
— Escute, Carlo. Vou-lhe contar uma coisa muito chocante- Agora prepare-se porque,
quando eu terminar, quero que você me responda muito despreocupadamente como se tivesse
recebido uma notícia comum. Eu disse a Connie que era uma coisa importante, assim você vai
ter que contar outra história a ela. Diga-lhe que a Família resolveu mudar vocês dois para uma
das casas da alameda e dar a você um bom emprego. Que Don Corleone resolveu finalmente lhe
oferecer uma oportunidade com a esperança de melhorar a vida doméstica de vocês dois.
Entendeu bem?
Havia um tom de esperança na voz de Carlo quando ele respondeu:
— Sim, está bem.
— Daqui a alguns minutos — prosseguiu Hagen — dois dos meus homens vão bater na sua
porta para apanhar vocês. Diga-lhes que quero primeiro que eles telefonem para mim. Diga-lhes
apenas isto. Não diga nada mais. Eu os instruirei por deixá-lo aí com Connie. Está bem?
— Sim, sim, entendi — respondeu Carlo.
Sua voz estava excitada. A tensão na voz de Hagen parecia finalmente tê-lo alertado para o
fato de que a notícia que ele iria receber era realmente importante.
Hagen transmitiu-a diretamente.
— Mataram Sonny esta noite. Não diga nada. Connie chamou-o enquanto você dormia e ele
estava a caminho daí, mas não quero que ela saiba disso, mesmo que ela tenha o pressentimento,
não quero que Connie saiba disso com certeza. Ela vai começar a pensar que tudo foi culpa dela.
Agora quero que você passe a noite com ela, mas não lhe conte nada. Quero que você seja o
perfeito marido amoroso. E quero que você se comporte assim pelo menos até ela ter a criança.
Amanhã de manhã alguém, talvez você, talvez Don Corleone, talvez a mãe, dirá a ela que o
irmão foi assassinado. E quero que você esteja ao seu lado. Faça-me este favor e eu lhe ajudarei
no futuro. Entendeu bem?
A voz de Carlo estava um pouco trêmula.
— Certamente, Tom, certamente. Escute, eu e você sempre nos demos bem. Eu lhe
agradeço. Compreendeu?
— Sim — retrucou Hagen. — Ninguém vai dizer que a sua briga com Connie foi que causou
isso, não se preocupe. Eu me encarregarei disso. — Fez ima pausa e falou de modo brando e
animador: — Toque para a frente agora, cuide de Connie.
Hagen cortou a ligação.
Ele aprendera a jamais fazer uma ameaça. Don Corleone lhe ensinara isso, mas Carlo
compreendera bem a mensagem: ele estava a um passo da morte.
Hagen deu outro telefonema, para Tessio, pedindo-lhe que viesse imediatamente à alameda
de Long Beach. Não disse por que, nem Tessio perguntou. Hagen deu um suspiro. Agora viria a
parte que ele receava.
Ele teria de acordar Don Corleone do seu sono narcotizado. Teria de dizer ao homem a quem
mais tinha afeição no mundo que falhara, que falhara na guarda de seu domínio e da vida de seu
filho mais velho. Teria de dizer a Don Corleone que tudo estava perdido, a menos que o próprio
homem doente pudesse entrar na batalha. Pois Hagen não se iludia. Somente o grande Don
Corleone podia transformar em vitória essa terrível derrota. Hagen não se preocupou nem
mesmo em consultar o médico de Don Corleone, não adiantaria nada. Não importava o que os
médicos aconselhassem, mesmo que dissessem que Don Corleone não podia levantar-se da sua
cama de enfermo sob pena de morte, ele devia contar o fato ao seu pai adotivo e depois seguir as
suas instruções. E, naturalmente, não havia dúvida sobre o que Don Corleone faria. As opiniões
dos médicos eram descabidas agora; tudo era descabido agora. Don Corleone devia receber a
notícia e assumir o comando ou mandar que Hagen entregasse todo o poder dos Corleone às
cinco Famílias.