Page 178 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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lábios  túmidos  deformavam  a  sua  fala.  A  Sra.  Corleone  fez  um  sinal  para  o  guarda-costas  ir
  chamar Sonny, que se encontrava na sala de estar com Tom Hagen.
    Sonny entrou na cozinha e tomou o telefone da mãe.
    — Sim, Connie — disse ele.
    Connie estava tão apavorada com o marido e com o que o irmão poderia fazer, que sua fala
  piorou. Ela balbuciou:
    — Sonny, mande um carro me apanhar agora em casa, eu lhe conto depois, não é nada,
  Sonny. Não venha você. Mande Tom, por favor, Sonny. Não é nada, é só que eu quero ir até aí.
    Nesse momento, Hagen entrara na cozinha. Don Corleone já estava dormindo sob o efeito de
  um sedativo, no quarto de cima, e Hagen queria manter certa vigilância sobre Sonny em todas as
  crises. Os dois guarda-costas internos também se encontravam na cozinha. Todos fitavam Sonny
  enquanto ele escutava no telefone.
    Não havia dúvida de que a violência da natureza de Sonny Corleone emergia de algum poço
  misterioso e profundo. Enquanto observavam, podiam ver realmente o sangue afluir para o seu
  pescoço de veias grossas, podiam ver a película dos olhos cheia de ódio, as feições de seu rosto se
  comprimirem, cada vez mais, depois o seu rosto tomar a tonalidade acinzentada de um homem
  doente lutando contra um tipo de morte, exceto que o bombeamento de adrenalina através do seu
  corpo fazia-lhe as mãos tremer. Mas a sua voz estava controlada, e em tom baixo quando ele
  falou para a irmã.
    — Você espere aí. Só isso, espere aí. — Desligou o telefone. Ficou parado por um momento,
  completamente  atordoado  com  a  própria  raiva,  depois  exclamou:  —  Grande  filho  da  puta!
  Grande filho da puta!
    E saiu correndo da casa.
    Hagen  reconheceu  o  aspecto  do  rosto  de  Sonny,  todo  o  poder  de  raciocínio  o  havia
  abandonado. Nesse momento, Sonny era capaz de tudo. Hagen sabia também que a viagem até a
  cidade esfriaria Sonny, faria que ele ficasse mais racional. Mas essa racionalidade poderia torná-
  lo até mais perigoso, embora isso o tornasse capaz de proteger.se contra as conseqüências de sua
  fúria. Hagen ouviu o motor do carro roncar e disse para os dois guarda-costas:
    — Vão atrás dele.
    Em  seguida,  dirigiu-se  ao  telefone  e  fez  algumas  chamadas.  Arranjou  para  que  alguns
  homens do regime de Sonny que moravam na cidade fossem até o apartamento de Carlo Rizzi e
  tirassem  Carlo  dali.  Outros  homens  ficariam  com  Connie  até  Sonny  chegar.  Ele  estava  se
  arriscando ao tentar contrariar Sonny, mas sabia que Don Corleone o apoiaria. Tinha medo de
  que  Sonny  pudesse  matar  Carlo  na  frente  de  testemunhas.  Não  esperava  complicação  do
  inimigo. As cinco Famílias haviam sossegado há muito tempo e obviamente procuravam manter
  a trégua.
    No momento em que o Buick de Sonny saiu roncando da alameda, ele já tinha recuperado,
  em parte, seus sentidos. Percebeu os dois guarda-costas entrarem no carro para segui-lo e gostou
  da  idéia.  Ele  não  esperava  que  houvesse  perigo;  as  cinco  Famílias  tinham  parado  de  contra-
  atacar,  não  estavam  realmente  combatendo  mais.  Agarrara  o  paletó  no  vestíbulo  e  havia  um
  revólver  num  compartimento  secreto  do  painel  de  instrumentos  do  carro,  estando  o  carro
  registrado  no  nome  de  um  membro  do  seu regime  para  que  ele  pessoalmente  não  pudesse
  envolver-se  em  alguma  complicação  com  a  lei.  Mas  ele  não  previa  que  fosse  precisar  de
  qualquer arma. Nem sabia ainda o que ia fazer com Carlo Rizzi.
    Agora que tinha tempo para pensar, Sonny compreendeu que não podia matar o pai de uma
  criança que ainda não nascera, e esse pai era o marido de sua irmã. Não por causa de uma briga
  doméstica.  Com  a  diferença  que  não  era  apenas  uma  briga  doméstica.  Carlo  era  um  mau
  elemento  e  Sonny  sentia-se  responsável  porque  a  irmã  conhecera  o  salafrário  por  seu
  intermédio.
    O paradoxo da natureza violenta de Sonny era que ele não podia bater numa mulher e nunca
  fizera  isso.  Nem  podia  maltratar  uma  criança  ou  qualquer  coisa  indefesa.  Quando  Carlo  se
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