Page 233 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Provavelmente estaria na cozinha preparando o breakfast dele pessoalmente, para penitenciar-se
da culpa que sentia porque queria ver a família uma vez mais, antes de ir para tão longe, do outro
lado da Sicília. Don Tommasino arranjaria transporte para levá-la até onde se encontrasse
Michael.
Na cozinha, a velha Filomena trouxe-lhe o café e se despediu dele.
— Vou dar lembranças suas a meu pai — disse Michael e ela acenou com a cabeça.
Calo entrou na cozinha e disse a Michael:
— O carro está lá fora, posso apanhar a sua maleta?
— Não, eu a apanharei — respondeu Michael. — Onde esta Apollonia?
O rosto de Calo abriu-se num riso divertido.
— Está sentada no lugar do motorista do carro, morrendo de vontade de pisar no acelerador.
Ela vai ser uma perfeita mulher americana antes de chegar na América.
Nunca se tinha ouvido falar de uma camponesa da Sicília que tentasse dirigir um carro. Mas
Michael às vezes deixava Apollonia guiar o Alfa Romeo dentro dos muros da villa, sempre,
porém, ao seu lado porque ela às vezes pisava no acelerador quando devia pisar no freio.
— Apanhe Fabrizzio e espere por mim no carro — disse Michael a Calo.
Em seguida saiu da cozinha e subiu a escada até o quarto. Sua maleta já estava arrumada.
Antes de apanhá-la, olhou pela janela e viu o carro estacionado em frente dos degraus do pórtico
e não na entrada da cozinha. Apollonia havia sentado no banco da frente, com as mãos na
direção como uma criança brincando. Calo estava justamente pondo a cesta de comida no
assento traseiro. E então Michael ficou aborrecido ao ver Fabrizzio desaparecer pelos portões da
villa para fazer alguma coisa lá fora. Que diabo estava ele fazendo? Viu Fabrizzio dar uma olhada
por cima do ombro, uma olhada um tanto furtiva. Ele ia ter que corrigir aquele maldito pastor.
Michael desceu a escada e resolveu passar pela cozinha para ver novamente Filomena e dar-lhe
um último adeus.
— O Dr. Taza está dormindo? — perguntou à velha.
Filomena fez uma cara manhosa e respondeu:
— Galos velhos não cantam mais para saudar o sol. O doutor foi a Palermo ontem à noite.
Michael deu uma gargalhada. Saiu pela entrada da cozinha e o cheiro de florescências de
limão penetrava até mesmo no seu nariz meio tapado. Viu Apollonia acenar-lhe do carro apenas
a dez passos da pista de entrada da villa e então compreendeu que ela estava fazendo sinal para
que ele ficasse onde estava, que ela queria dizer que dirigiria o carro até onde ele se achava. Calo
sorria ao lado do carro, balançando a lupara na mão. Mas não havia ainda nem sinal de Fabrizzio.
Nesse momento, sem qualquer processo racional consciente, tudo se ligou e se esclareceu em
sua mente, e Michael gritou para a moça:
— Não! Não!
Mas o seu grito foi abafado pelo estrondo da tremenda explosão que Apollonia provocou ao
ligar a ignição do carro. A porta da cozinha foi reduzida a fragmentos e Michael foi jogado ao
longo do muro da villa a uns três metros de distância. Pedras caídas do telhado da casa atingiram-
no nos ombros, e uma delas roçou-lhe o crânio quando ele estava deitado no chão. Michael teve
consciência apenas o tempo suficiente para ver que nada restava do Alfa Romeo, a não ser as
quatro rodas e os eixos de aço que as uniam.
Ele voltou si num quarto que parecia muito escuro e ouviu vozes falando tão baixo que não
conseguia entender as palavras. Com um instinto animal, tentou fingir que ainda estava
inconsciente, mas as vozes pararam e alguém estava inclinado de uma cadeira perto de sua
cama, a voz era distinta agora e dizia:
— Bem, ele está finalmente conosco.
Uma lâmpada foi acesa, a sua luz parecia um fogo branco sobre os seus globos oculares, e