Page 228 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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filha e desapareceu da cena. Michael e a noiva puderam ir sozinhos para o espaçoso quarto de
  dormir.
    Apollonia  estava  ainda  usando  o  seu  vestido  de  noiva  com  um  casaco  sobre  ele.  As  suas
  malas e objetos de uso tinham sido trazidos do carro para o quarto. Numa mesinha havia uma
  garrafa de vinho e um prato de pequenos doces de casamento. A enorme cama de dossel nunca
  lhes  saía  da  vista.  A  moça  no  centro  do  quarto  esperava  que  Michael  fizesse  o  primeiro
  movimento.
    E agora que ele a tinha sozinha, agora que ele a possuía legalmente, ago ra que não havia
  obstáculo  para  que  ele  gozasse  o  corpo  e  o  rosto  com  que  sonhava  toda  noite,  Michael  não
  conseguiu  aproximar-se  dela.  Ele  a  viu  tirar  o  véu  de  noiva  e  pô-lo  cuidadosamente  numa
  cadeira e colocar a grinalda num pequeno toucador, onde se achava uma coleção de perfumes e
  cremes  que  Michael  encomendara  em  Palermo.  A  moça  contemplou  tudo  isso  por  um
  momento.
    Michael  apagou  as  luzes,  pensando  que  Apollonia  estivesse  esperando  a  escuridão  para
  proteger o corpo enquanto se despia. Mas a lua siciliana penetrou no quarto através das janelas,
  brilhante como ouro, e Michael procurou fechar as venezianas, mas não totalmente, pois o quarto
  ficaria muito abafado.
    A moça estava ainda postada junto à mesa, de modo que Michael saiu do quarto e atravessou
  o corredor indo até o banheiro. Ele, o Dr. Taza e Don Tommasino haviam tomado um copo de
  vinho juntos no jardim enquanto as mulheres se preparavam para dormir. Esperava encontrar
  Apollonia de camisola quando voltasse, já entre as cobertas. Ficou surpreso ao ver que a mãe não
  fizera esse serviço para a filha. Talvez Apollonia quisesse que ele a ajudasse a despir-se. Mas
  tinha  certeza  de  que  a  moça  era  muito  tímida,  muito  inocente  para  um  comportamento  tão
  avançado.
    Voltando ao quarto, encontrou-o completamente às escutas, alguém fechara totalmente as
  venezianas. Foi andando às apalpadelas até a cama e pôde divisar as formas de Apollonia sob as
  cobertas,  de  costas  para  ele,  o  corpo  curvado  e  encolhido.  Michael  se  despiu  e  se  enfiou
  completamente nu por baixo do lençol. Estendeu a mão e tocou a pele nua sedosa da moça. Ela
  não pusera a camisola e essa ousadia o agradou. Vagarosamente, cuidadosamente, ele pôs a mão
  no ombro dela e apertou-lhe o corpo delicadamente de forma que ela se virasse para ele. A
  jovem se virou lentamente, e a mão dele tocou-lhe o seio, macio, cheio, e então ela caiu em seus
  braços tão rapidamente que os seus corpos se uniram numa linha de eletricidade voluptuosa e ele
  finalmente  pôs  os  braços  em  volta  dela,  beijando-lhe  profundamente  a  boca  ardente,
  comprimindo-lhe o corpo e os seios contra ele e depois rolando o seu corpo para cima do corpo
  dela.
    A carne e o cabelo dela eram tão sedosos e agora ela era toda ânsia, arfando selvagemente
  junto  a  ele  num  frenesi  erótico  virginal.  Quando  Michael  penetrou  nela,  Apollonia  deu  um
  pequeno  suspiro  e  permaneceu  quieta  por  um  segundo,  depois  num  impulso  poderoso  para  a
  frente  de  sua  pélvis,  trançou  as  suas  pernas  acetinadas  em  torno  das  ancas  dele.  Quando
  chegaram  ao  fim,  estavam  tão  firmemente  entrelaçados,  tão  violentamente  agarrados  um  ao
  outro, que separar-se um do outro era como o tremor perante a morte.
    Naquela noite e nas semanas que se seguiram, Michael Corleone passou a compreender a
  importância  atribuída  à  virgindade  pelos  povos  socialmente  primitivos.  Foi  um  período  de
  sensualidade como ele jamais experimentara antes, uma sensualidade aliada a um sentimento de
  poder masculino. Apollonia naqueles primeiros dias se tornou quase sua escrava. Dando-lhe a sua
  confiança, o seu amor, uma jovem vigorosa despertando da virgindade para um estado erótico
  era tão delicioso como uma fruta no ponto exato de amadurecimento.
    Ela, por sua parte, alegrou a atmosfera sombriamente masculina da villa. Mandou embora a
  mãe logo no dia seguinte à noite nupcial e presidiu à mesa comunal com um brilhante encanto
  juvenil. Don Tommasino jantava com eles toda a noite e o Dr. Taza contava todas as suas velhas
  histórias,  enquanto  bebiam  vinho  no  jardim  cheio  de  estátuas  adornadas  de  flores  bem
  vermelhas, e assim as noites transcorriam prazerosamente. Mais tarde, em seu quarto, os recém-
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